domingo, 27 de fevereiro de 2011

Arraial do Clã Brasil


Vai fazer dois anos que, graças ao amigo Campanhã, ouvi pela primeira vez Um clã chamado Brasil.

Naquela época, o Clã Brasil já havia lançado 5 CDs (2002 a 2006) e um DVD (2006), que eram vendidos também através do site.

Guardei um release, que passados quase 2 anos já está superado, mas é um documento, pelas informações daquele momento:
Lucyane

Escolaridade: Universitária. Sanfoneira e vocalista. Iniciou os estudos de teoria e prática musical aos 4 anos de idade, na Escola Antenor Navarro e no curso de extensão da UFPB. Estudou piano durante 4 anos. Toca outros instrumentos musicais como violino, fole de oito baixos, contrabaixo, violão e cavaquinho. Já se apresentou em alguns estados brasileiros, duas vezes nos EUA e duas vezes em Portugal.

Laryssa

Escolaridade: 2o. Grau completo. Zabumbeira, violinista, percussionista e vocalista. Iniciou os estudos de teoria e prática musical aos 4 anos de idade, na Escola Antenor Navarro e no curso de extensão da UFPB. Já se apresentou em alguns estados brasileiros, duas vezes nos EUA e duas vezes em Portugal.

Lizete

Escolaridade 2a. série do 2o. Grau. Flautista e vocalista. Iniciou os estudos de teoria e prática musical aos 4 anos de idade, na Escola Antenor Navarro e no curso de extensão da UFPB. Já se apresentou em alguns estados brasileiros, duas vezes nos EUA e duas vezes em Portugal.

Fabiane

Escolaridade: 3a. série do 2o. Grau. Cavaquista e vocalista. Iniciou os estudos com seu pai, o maestro Chiquito, e continua estudando guitarra na Escola do Rotary. Também faz parte da orquestra Metalúrgica Filipéia, como guitarrista.

Músicos base

Badu: Violão 7 cordas
Morena: Triângulo / Agogô
F. Neto: Percussão

Produção executiva: Badu

Arranjos: Badu e Maestro Chiquito


Links localizados hoje:

Nabuco e os "auxílios à lavoura"... privada de iniciativa

Não é de admirar que os homens de capital e de fortuna não vejam senão desastres e perdição fóra do navio apodrecido da escravidão em que navegam, quando uma sociedade, que pretende dirigir a lavoira e pôr-se á frente d’ella, a Sociedade Auxiliadora da Agricultura, não acha como qualificar o projecto Dantas [Sexagenários] senão de communista. Não creio que d’essa fórma a associação Pernambucana, a que me refiro, auxilie a lavoura, como não creio que a lavoura sustente a tal sociedade. (Hilaridade) Sob a escravidão nem uma nem outra poderiam prestar-se o menor auxilio. Não está no espirito da lavoira escravista auxiliar coisa alguma, e não está ao alcance dos seus directores espirituaes auxilial-a de qualquer fórma. Vede por exemplo o Centro da Lavoira e Commercio do Rio. Os lavradores e commissarios do sul gabavam-se de ter feito na Europa esplendidas Exposições de Café. Todos acreditavamos que era á custa d’elles, mas no Rio de Janeiro tive occasião de descobrir o segredo d’esse primeiro commettimento de uma classe entorpecida pela escravidão e incapaz de esforço mesmo em proveito proprio. As celebres Exposições de Café do Centro da Lavoira e Commercio eram feitas pelo Ministerio da Agricultura sem que o Parlamento tivesse votado fundos para esse fim. Eram pretextos para titulos e condecorações, custosamente elaborados á custa da subvenção secreta. (Sensação) Assim, sim; mas fóra dos dinheiros publicos a agricultura como classe não realizou ainda coisa alguma, nem em beneficio dos seus productos, nem em beneficio do territorio que possue ou da communhão a que pertence. É por isso que eu não creio na prosperidade de sociedades fundadas para auxiliarem a agricultura e dependentes da agricultura... a menos que recebam doações do Estado.

Joaquim Nabuco
Discurso proferido n’um meeting popular na Passagem da Magdalena
A 16 de Novembro

Fonte:
Campanha Abolicionista no Recife
Eleições 1884
Joaquim Nabuco (discursos)

Os 70 anos de Dominguinhos (TV Globo - parte 1)


Dominguinhos: 70 anos de estrada - 12/02/2011 - Globo Nordeste - 1 de 4

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Ferrovia ALL, Ferronorte, agrobiz e o caminho mais curto entre dois pontos

Pelo ronco do PiG, logo se vê quem lhe dá lavagem.

Se você ouve "oinc oinc a Ferrovia Transnordestina vai investir X trilhões e ficará pronta para ontem", siga o fio de algodão. Na época dos bacuris magrinhos, qualquer espaço servia, inclusive jornais do interior do estado do Rio. Hoje goza dos melhores espaços editoriais de alcance nacional, sem perder de vista jornais do Nordeste.

Se você escuta "oinc oinc é uma vergonha os trilhos da Ferrovia Vicente Vuolo ainda não terem chegado a Cuiabá", siga a fileira de chavões surrados que fizeram a glória do porto de Santos e da cidade de São Paulo, finalistas do Gran Prix Maior Engarrafamento da América do Sul -- um na categoria profissional "A maior fila de caminhões de soja da América do Sul"; a outra, na categoria paratodos "Venha para o engarrafamento mais eficiente da América do Sul você também" (com chamadas diárias pela manhã, à tarde e à noite nas redes nacionais de TV). Leve sunga e pé de pato.


Nesta matéria, por exemplo -- ou seria um Jogo dos 7 Erros? --, aparentemente o interesse seria da "lavoura": aquele pessoal que labuta horas a fio em aviões particulares, para sobrevoar suas plantações de soja no Mato Grosso, e voltar a tempo de evitar o engarrafamento dos heliportos no final da tarde:
«Frete ferroviário

«Principal porta de saída de commodities mato-grossenses para o mercado internacional, o Porto de Santos embarcou no ano passado, 5,1 milhões de toneladas de soja produzida nas lavouras que se espalham por praticamente todos os municípios de Mato Grosso.
Logo nas primeiras palavras entrega o ouro: -- O interesse da matéria não está no agrobiz, mas na "principal porta de saída". O porto de Santos, claro.

Evitemos nos enredar na espinhosíssima discussão sobre se "o caminho mais curto e econômico entre dois pontos é o porto de Santos" -- debate em que se perderam dúzias de gabinetes imperiais e duas ou três repúblicas.

«O volume de soja embarcado em Santos chega ao cais pelos trilhos da Ferrovia Senador Vicente Vuolo, da América Latina Logística (ALL), que opera terminais graneleiros em Alto Taquari (desde 2001) e Alto Araguaia (desde 2002).

«Depois de longa paralisação da obra da ferrovia - cuja concessão prevê a ligação de São Paulo com Cuiabá, Porto Velho (RO) e Santarém (PA) - a construção foi retomada para ser executada até o final do próximo ano, no trecho de 250 km de Alto Araguaia a Rondonópolis.

«O projeto do trecho em obra da ferrovia da ALL prevê que na safra 2012/13 o trem apitará em Rondonópolis, o que em termos de carga significará uma oferta para o Porto de Santos, de 7,5 milhões de toneladas de soja, farelo de soja, algodão, milho e outras commodities do agronegócio. Ou seja, nos próximos dois anos a movimentação de cargas alcançará marca superior ao dobro da atual.
Portanto, depois da tradicional repetição de datas e números(*), volta a cair no verdadeiro interesse que rege a matéria: "uma oferta para o Porto de Santos, de 7,5 milhões de toneladas de soja, farelo de soja, algodão, milho e outras commodities do agronegócio".

Há uma preocupação ambiental, capaz de enternecer até o coração de pedra do mais insensível dos faraós:
«A ferrovia já escoa commodities para exportação há 10 safras pelo terminal de Alto Taquari e há nove pelo seu similar em Alto Araguaia. Nesse período o transporte feito sobre trilhos aliviou a pressão ambiental causada pelo vaivém das carretas e bitrens, reduziu a movimentação de veículos pesados entre o sul de Mato Grosso e Santos, o que obviamente se traduz em menor número de acidentes rodoviários no citado trecho interestadual.
Essa Ferrovia Vicente Vuolo dá de dez a zero em Madre Teresa de Calcutá -- é uma obra da mais santa caridade, salvando vidas a rodo.

Dos benefícios ambientais, então, nem duvidar. Onde chegam seus trilhos, os agrotóxicos fogem espavoridos. O desamatamento entra no jatinho e vai pedir asilo bem longe, lá na Monsanto. Renasce a biodiversidade. Recompõem-se os biomas. Florescem as margens dos rios e córregos.

Por especial deferência, nem fala de Ibama. Ainda bem. Falar o que. Ibama só serve para atrapalhar uma obra tão benéfica.

«Não se pode negar os aspectos favoráveis da ferrovia nem sua importância para a logística de transporte em Mato Grosso, estado que antes dela se ancorava exclusivamente na matriz rodoviária para efeito de ligação com São Paulo e os demais estados do Sudeste. Porém, o embarque de soja nos comboios da ALL não altera o preço do frete do produto, o que mantém o produtor rural recebendo por essa leguminosa cotação que não leva em conta o componente “frete”.

«Ferrovia tem que ser atividade com mão dupla, de modo a assegurar lucro aos seus controladores, ao meio ambiente e ao produtor rural que responde pelo carregamento de seus comboios com as commodities cultivadas em Mato Grosso.

«A construção do terminal de embarque de grãos da ALL em Itiquira – entre Alto Araguaia e Rondonópolis - está de vento em popa. Autoridades e trades comemoram antecipadamente esse avanço da logística de transporte. Porém, Mato Grosso não pode se deixar levar por conquista parcial e tem que exigir a redução do frete ferroviário para que os benefícios diretos da ferrovia cheguem aos produtores rurais.

«A bancada federal mato-grossense tem o dever de botar o frete ferroviário da ALL na pauta de seus debates. O mesmo procedimento tem que se estender aos deputados estaduais, ao Governo de Mato Grosso e ao conjunto das entidades representativas do setor primário.»

Quinta feira, 10 de fevereiro de 2011 |    Edição nº 12933 10/02/2011

http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=388107
Os parágrafos finais são luminosos. Não falam da vida que levam os camioneiros, ou por que muitos fazem frete por qualquer trocado, nem por que têm essa mania esquisita de dormir sobre o volante. Para que conspurcar tão belo discurso, com questiúnculas de somenos?

A idéia geral é das mais interessantes -- levantar uma grita geral, para controlar os preços cobrados pela ferrovia ALL.

Mas por que controlar só os preços da ferrovia ALL? Por que não uma grita geral para controlar, também, os preços dos medicamentos, do feijão, do açúcar, do óleo de soja, da ração animal, da carne de boi? Por que não controlar os preços dos pneus, para que o camioneiro não ande por aí com os ditos desprovidos de cabelo, causando acidentes? Por que não controlar a margem de lucro dos atravessadores?

Melhor -- por que não levantar uma grita geral para controlar os preços dos pedágios?

São muitas as questões, interessantíssimas, que você nunca vai ver numa matéria PiG tipo "oinc oinc é uma vergonha os trilhos da Ferrovia Vicente Vuolo ainda não terem chegado a Cuiabá". Tudo bem. Não é para falar delas que se escrevem tais matérias.

(*) - Em tempo: essa repetição de datas e números é muito mais do que mera mania de faraó (tipo, eu sou X, filho de Y, filho de W, filho de Z etc.). É um sinal de alerta. Ali ficam marcados e demarcados os "direitos" (nada de deveres) de que seus detentores (atuais ou futuros, pois "expectativa de lucro" é contrato perfeito, direito adquirido etc., portanto valor a ser defendido até por futuros compradores ainda nem nascidos) jamais irão abrir mão. Essa turma morde o osso e não solta nunca mais. A "Ferrovia Vicente Vuolo" (por meio de todos os detentores atuais ou passados) se arrasta a passo de cágado? Não importa. Um dia -- haja o que houver -- irão cobrar os direitos de cada milímetro jamais construído, numa extensão de milhares e milhares de quilômetros. O negócio deles nunca foi investir, muito menos construir. É tomar posse do osso, para nunca mais largar. Brigar contra quem quer que tente "invadir" sua "zona privilegiada". Nunca cumprira nada de seu contrato? A culpa é "do governo", claro -- você, eu, todos nós, que em última instância somos prejudicados pela falta de cumprimento, e ainda arcamos com os impostos que, se depender deles, ainda lhes serão transferidos na forma de "indenização" e/ou "compensações". Veja o tamanho da conta que ainda tentarão cobrar de todos nós -- pelos milhares de quilômetros que jamais construíram, nem jamais pretenderam construir, em todas essas décadas: "concessão prevê a ligação de São Paulo com Cuiabá, Porto Velho (RO) e Santarém (PA)". Faça as contas. A depender deles, a conta não vai ser moleza para nenhum de nós, contribuintes.

O golpe é mais velho do que os trilhos, entre nós. Seu patrono fundador foi o médico homeopata Thomas Cochrane -- que fez a gentileza de jamais construir a EF D. Pedro II. Mas cobrou. Ah, isso, cobrou. Caro!

Carajás, Vale e SuperPiG -- a outra identidade (secreta): "limpinha e cheirosa"


Existe uma outra PiG -- ou, outros "momentos PiG", em que ela entra numa cabine telefônica (de vidro, em Metrópolis), despe a personalidade barraqueira de zona eleitoral e limpa o salão, para se apresentar na Glória.

Diz o título da matéria: "Expansão da Vale no Norte terá US$ 3 bi em porto e ferrovia", e é tudo muito bonito. O "Norte" vai bombar (ainda mais)!
« O Norte do Brasil vai garantir a maior parte do crescimento da Vale na produção de minério de ferro nos próximos cinco anos. Para escoar a produção, a empresa vai enfrentar grandes desafios logísticos e terá de investir pesado na ampliação da infraestrutura existente, incluindo mina, ferrovia e porto. O aumento da capacidade de movimentação do minério de ferro, das 115 milhões de toneladas previstas em 2011 para 150 milhões de toneladas no ano que vem, vai exigir investimentos de US$ 3 bilhões, mas o desembolso total, na ampliação da logística do sistema norte, poderá chegar a US$ 7 bilhões a longo prazo. No fim de 2014 a previsão é de que o sistema norte da Vale movimente 230 milhões de toneladas. »
Mas, quem é "o Norte", cara pálida?

Os números se sucedem, espetaculares. A linguagem, "técnica", "limpa", sóbria, elegante, não fica atrás. Transpira eficiência, racionalidade, objetividade. Parece até de mau gosto, em meio a tanta eficiência pós moderna, perguntar uma bobagem menor, como quem, com mil porquinhos, é "o Norte", que comparece como sujeito logo na primeira frase. Como vive? Come o que? Torce por qual time? O que faz aos domingos, ou em outras horas vagas, quando não estiver garantindo "a maior parte do crescimento da Vale na produção de minério de ferro nos próximos cinco anos"?

A Vale, sujeito da segunda frase, a gente vê logo quem é, e o que fará: "vai enfrentar grandes desafios logísticos e terá de investir pesado na ampliação da infraestrutura existente, incluindo mina, ferrovia e porto". Uma guerreira, já se vê. Vai "enfrentar", investir pesado, grandes desafios e tudo mais a que tem direito. Uma super heroína! Deve suar muito, coitada. Cuidado para não pegar insolação.

Segue-se a descrição das maravilhas que a Vale irá montar, com abundância de termos técnicos -- acessíveis, deslumbrantes. Já ia subindo um arrepio, quando sacudi a cabeça, desviei os olhos da tela, passei o foco oftalmológico de 80 cm para 80 metros (uma bela palmeira, no beco vizinho). Estaria mergulhando num estado hipnótico?

Uma volta, portão, rua, nuvens, pessoas, e volto a ler. Resumo: uma correia transportadora (não muito diferente, em essência, da cadeia produtiva do aluminio). Super, hiper, mega correia transportadora. Tremei, australianos! -- se é que competição faz sentido (nenhum sinal de demanda fraca, a exigir disputa). Ou, se é que os australianos (tanto quanto os nortistas) têm alguma parte nisso tudo. Em Minas, até hoje se discute o antigo e tradicional "Ia ser bom. Não foi?!". [Foi, sim! Claro que foi. Foi dimásss! O minério foi. Foi-se. Cuidado para não cair no buraco].

Gostou da Super PiG? Tutorial

Volto, leio, releio, e não encontro uma única palavra sobre os nortistas. Ou meio-nortistas, segundo mapas da década de 50.

Tudo bem, talvez estejam em outra matéria (tipo, "ver matéria ao lado"), que ainda não localizei.

Tampouco encontro a menor referência à região, ao país, ao Estado nacional, a uma política pública, a uma palha movida pelo governo, ou sequer um café pequeno fiado pelo BNDES com garantia do Tesouro (o seu, o meu, o nosso suor). Existem a empresa, o minério, a ferrovia, o porto, "executivos", "horizontes" (de demanda) -- mas o contexto não ultrapassa os limites deste acanhado cercadinho.

E no entanto -- que fina ironia! -- isso é a cara das antigas matérias pagas, da época do "Brasil grande", quando jornalões, grandes agências de publicidade e representantes da indústria gráfica batiam ponto diariamente na Esplanada (em Brasília) e similares (no Rio), negociando o big boom da indústria editorial dos anos 70 (coisa de deixar no chinelo as vinhetas importadas da belle époque; mas isso já é uma outra estória).

Os negócios prosseguem -- agora, sem a antiga verba publicitária do governo concentrada em meia dúzia de agências e jornalões -- e, por consequência, sua atuação foi retirada da foto, no melhor estilo Joe Mercado Stalin. Presidenta bonita não paga, mas também não leva. No retrato, agora, os personagens são apenas empresas privadas, seus executivos, o "mercado", eventualmente um "horizonte" (de demanda), alguns "ventos" (trends), e outros fenômenos "naturais" (da natureza do mercado, entenda-se; nada de ambiente nem ½ ambiente, please!).