terça-feira, 31 de maio de 2011

Memória de um Brasil privatizado

Imagine que você trabalhou toda uma vida para adquirir um patrimônio. E que, em meio a dívidas, tenha decidido vendê-lo para colocar as contas em dia. Agora imagine que o comprador anda meio sem grana. E que você resolve emprestar para ele o dinheiro com o qual seu patrimônio será comprado. O comprador te pagaria de volta a perder de vista, assim que começasse a lucrar com o que acaba de adquirir. Detalhe: você teria vendido justamente os bens com os quais gerava parte de sua renda. E por um preço bastante abaixo do valor de mercado. Pois foi assim que se deu boa parte das privatizações realizadas no Brasil no governo de FHC. O artigo é de Tiago Soares.

Tiago Soares
Data: 21/10/2010

Artigo publicado originalmente no blog El estupendo grouchomarxista

Este artigo é um apanhado do que foi o processo de privatização tocado por José Serra e FHC durante o governo tucano. A intenção é compilar, num relato ligeiro, informações que sirvam para esclarecer interessados e interessadas no debate.

Boa parte dos dados que compõem o texto foi retirada do clássico “O Brasil Privatizado”, de Aloysio Biondi. O resto das informações foi levantada em notícias antigas, sites de organizações, partidos e sindicatos e páginas oficiais.


Imagine que você trabalhou toda uma vida para adquirir um patrimônio. E que, em meio a dívidas, tenha decidido vender uma ou outra coisa para colocar as contas em dia.

Agora imagine que o comprador, durante a negociação, tenha lhe confidenciado que anda meio sem grana. E que então você, ansioso/a para bater o martelo, resolva emprestar para o interessado o dinheiro com o qual seu patrimônio será comprado. O comprador te pagaria de volta a perder de vista, assim que começasse a lucrar com o que acaba de adquirir. Detalhe: você teria vendido justamente os bens com os quais gerava parte de sua renda. E por um preço bastante abaixo do valor de mercado.

Pois foi justamente assim que se deu boa parte das privatizações realizadas no Brasil no governo de Fernando Henrique Cardoso, de meados da década de 1990 até 2002. Empresas públicas produtivas, como a Vale do Rio Doce e a Light, vendidas a preços muito abaixo do que realmente valiam, com financiamento público a perder de vista.

Tendo como argumentos o abatimento da dívida, a atração de capital estrangeiro, o aumento da produtividade e a melhoria dos serviços aos cidadãos e cidadãs, o patrimônio brasileiro foi colocado à venda e oferecido a alguns poucos grupos econômicos internacionais, financiados por bancos estrangeiros e com ajuda do próprio governo brasileiro. O que se escondia, porém, é que na antesala da privatização a infraestrutura das empresas era sucateada, numa política de depreciação do patrimônio nacional, jogando no desemprego dezenas de milhares de profissionais qualificados.

E não foi só isso. Para tornar o negócio atraente, o governo abateu as dívidas das empresas com a União e realizou ajustes de tarifas, puxando para cima os preços dos serviços e garantindo enorme lucro futuro aos investidores. Para se ter uma ideia, o reajuste nas tarifas telefônicas chegou a 500%; no caso da energia elétrica, a coisa ficou na faixa de 150%. E ao contrário de outros países, nos quais os processos de privatização exigiam que as companhias baixassem gradualmente as taxas cobradas pelos seus serviços, o combinado pelo governo FHC foi que os novos donos das empresas estatais poderiam seguir ajustando os preços anualmente, segundo a taxa de inflação.

Para convencer a opinião pública, governo e meios de comunicação defendiam que a venda das estatais atrairia dinheiro do exterior, reduzindo as dívidas externa e interna do Brasil. E, na verdade, ocorreu o contrário: além de “engolir” as dívidas de todas as estatais vendidas (o que aumentou a dívida interna), parte razoável do dinheiro levantado pelos investidores vinha de bancos estrangeiros. O que significou que, no fim das contas, as companhias recém privatizadas, já comprometidas com dívidas junto a grupos financeiros internacionais, seriam obrigadas a enviar grande parte do dinheiro que fizessem para o exterior. Algo que não aliviou – na verdade, piorou – a dívida externa nacional.

Para complicar ainda mais a situação, o próprio governo financiou parte da compra, oferecendo empréstimos do BNDES e trocando crédito pela aquisição de títulos da dívida pública. Medidas que acabaram se tornando um contrasenso, já que, ao oferecer no Brasil parte do dinheiro a ser investido nos leilões, os potenciais compradores acabaram sem grande estímulo para trazer dólares de fora para o país. Dólares que, justamente, eram alardeados desde o início como um dos motivos para a privatização.

No fim das contas, foi o seguinte: o Brasil entregou boa parte de seu patrimônio a preço de banana para uns poucos grupos econômicos; a dívida pública aumentou assustadoramente (de cerca de 30% do PIB, em 1995, para quase 60% do PIB em 2002); e a política de investimentos do BNDES, que estimulava a remessa de dólares para o exterior, acabou provocando uma recessão que atingiu as famílias do país, numa quebradeira generalizada que levou a enormes índices de desemprego.

No geral, foram privatizadas, entre 1990 e 1999, 166 empresas, com 546 mil postos de trabalho extintos diretamente. O que, comparado ao número de privatizações ocorridas desde meados da década de 1980 (19 companhias, entre 1985 e 1990) apenas prova a sanha privatista do projeto do PSDB. Um negócio que, muito bom para alguns lobistas e umas poucas empresas estrangeiras, se mostrou, em pouquíssimo tempo, péssimo para o povo brasileiro.

Só pra se ter uma ideia, alguns casos:

BNDES

Um dos principais responsáveis pela rápida saída do Brasil da crise econômica mundial de 2008, o BNDES quase foi privatizado no governo do PSDB. O banco, que nos últimos anos vem garantindo o crédito e o investimento no país, foi listado em 2000, a pedido do ministério da Fazenda, numa avaliação de possíveis privatizações do setor bancário. A iniciativa teria sido uma imposição do FMI.

Quem diz é o site do Ministério da Fazenda:

“Com determinação o governo dará continuidade à sua política de modernização e redução do papel dos bancos públicos na economia. O Banco Meridional uma instituição federal foi privatizado em 1998 e em 1999 o sexto maior banco brasileiro o BANESPA agora sob administração federal será privatizado. Ademais o Governo solicitou à comissão de alto nível encarregada do exame dos demais bancos federais (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, BNB e BASA) a apresentação até o final de outubro de 1999 de recomendações sobre o papel futuro dessas instituições tratando de questões como possíveis alienações de participações (grifo do autor) nessas instituições fusões vendas de componentes estratégicos ou transformação em agências de desenvolvimento ou bancos de segunda linha. Essas recomendações serão analisadas e decisões serão tomadas pelo Governo antes do final do ano sendo que as determinações serão implementadas no decorrer do ano 2000.”

Banespa

Privatizado em 2000, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o Banco do Estado de São Paulo (Banespa) foi adquirido pelo espanhol Santander por R$ 7 bi. Para se ter uma ideia do mau negócio, entre meados e o fim da década de 1990 o Estado brasileiro havia injetado R$ 50 bi na instituição. R$ 15 bi destes, apenas nos esforços de saneamento prévios ao processo de privatização: o que, descontado o dinheiro conseguido nos leilões, acabou num prejuízo de, no mínimo, R$ 8 bi aos cofres públicos.

Mais que isso: para tornar o negócio atraente, o governo brasileiro liberava o novo (e privado) dono do banco de qualquer contrapartida social (como financiamentos para a agricultura familiar, por exemplo).

Ou como disse ao portal Terra o presidente do Banco Central na época, Armínio Fraga, sobre a privatização do banco paulista:

“Fraga explicou que o Banespa privatizado não terá de manter sua atuação em “políticas públicas”, como financiamento a pequenos agricultores, por exemplo. “A privatização deixa clara a separação entre o negócio privado e uma política pública”.”

Vale do Rio Doce

Considerada a segunda maior mineradora do mundo, a Vale do Rio Doce (hoje, Vale S. A.) foi privatizada pelo governo do PSDB em 1997, por R$ 3,3 bi. O valor, muito abaixo de mercado, equivale a menos que ela obtinha por ano em 1995 – e, hoje, a algo em torno do feito em apenas um trimestre.

Mais que isso, o processo de privatização esteve envolto em graves suspeitas de corrupção, com acusações de cobrança de propinas milionárias por Ricardo Sérgio, lobista encarregado da montagem do consórcio vencedor. Causou polêmica, ainda, a intervenção do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, na composição dos grupos que concorriam pela companhia, numa ação vista como decisiva para o resultado final do leilão.

Petrobrás

Recentemente alçada ao posto de segunda maior petrolífera do mundo, a Petrobrás foi, ao longo de toda a era tucana, sondada quanto à sua possível privatização. Numa declaração recente, o atual presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, chegou a afirmar que “Para o governo FHC, a Petrobras morreria por inanição. Os planos do governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso eram para desmontar a Petrobras e vendê-la”.

Com a descoberta do pré-sal, a Petrobrás oferece ao país a oportunidade de tornar-se uma das maiores potências globais na área de energia. Pelo projeto proposto pelo governo Lula, boa parte dos rendimentos futuros do governo com as novas jazidas, na casa dos trilhões de dólares, deverão ser investidos num fundo soberano para investimentos em educação e ciência e tecnologia.

Além disso, o processo de capitalização da Petrobrás, no qual foi dada ao público a possibilidade de adquirir participação na empresa pela aquisição de ações, foi aberto a toda a população brasileira – ao contrário do processo de privatização defendido pelos tucanos, restrito a alguns poucos grupos econômicos internacionais.

A respeito das intenções de um hipotético governo do PSDB para a gestão do pré-sal, especula-se a retomada de uma agenda fortemente privatista para o setor. Em declaração recente ao jornal Valor Econômico, o principal assessor de José Serra para a área de enrgia, David Zylberstajn, afirmou que “Não tem que existir estatal comprando ou vendendo petróleo”.

Vale lembrar que Zylberstajn foi, no governo FHC, presidente da Agência Nacional do Petróleo, e um dos principais entusiastas da privatização da Petrobrás. Para se ter uma ideia, numa sondagem de mercado hoje reduzida ao anedotário histórico, chegou-se a especular que, num esforço para torná-la mais palatável a possíveis compradores estrangeiros, a companhia fosse rebatizada como “Petrobrax”.

Privatizações no governo José Serra

Quando governador de São Paulo pelo PSDB, José Serra pediu avaliações referentes à possível privatização de pelo menos 18 empresas pertencentes ao estado. Entre as companhias oferecidas ao setor privado, estariam nomes tradicionais como a Nossa Caixa, a Sabesp, o Metrô, CPTM, a Dersa e a CDHU.

E o banco Nossa Caixa, na verdade, escapou por pouco – posta em leilão, a instituição financeira acabou arrematada pelo Banco do Brasil, num esforço do Governo Federal para impedir que a companhia caísse nas mãos de grupos privados.

Em seu meio (porque até a metade) mandato à frente do estado, José Serra foi, no fim das contas, apenas fiel ao que defendia quando ministro do planejamento do governo FHC. Quem o diz é o proprio ex-presidente, que ressaltou, em conversa recente com a revista Veja, o entusiasmado papel desempenhado por Serra nas privatizações da década passada.

Este artigo foi publicado originalmente em:


O livro O Brasil Privatizado, de Aloysio Biondi, é disponibilizado em PDF pela Fundação Perseu Abramo.

Sobre o "caso Vale"

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Cadeirante denuncia dificuldade de conviver com a estrutura da cidade


José Luis da Silva Costa é brasileiro de Barra do Corda – MA, mora no assentamento Califórnia no município de Açailândia. Conhecido como Zé Luis, construiu uma carreira de liderança no Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do qual é um dos principais articuladores. Na Califórnia, a luta de Zé Luís se junta às ações da campanha Justiça nos Trilhos, ONG internacional que mescla Igreja, Movimento estudantil, partido político e movimento social e denuncia abusos cometidos pela segunda maior mineradora do mundo: a Vale (antiga Companhia Vale do Rio Doce).

Estudante de Comunicação Social – habilitação Jornalismo, Zé Luís deixa o assentamento Califórnia todas as manhãs com destino ao campus da UFMA de Imperatriz e apesar da condição de cadeirante, não se deixa abater pelas dificuldades. Em sua luta social, José Luis da Silva Costa denuncia o descaso com os cadeirantes e reforça o coro da campanha Justiça nos Trilhos, como mostra essa entrevista.

1) Na condição de cadeirante você enfrenta problemas que vão desde a falta de estrutura urbana adequada até o abuso de certas instituições e pessoas por causa da sua condição. O que é mais difícil?

Rapaz, o que é mais difícil de enfrentar é o fato da gente não ter uma cidade preparada para um cadeirante. De uma forma geral, se você vai numa loja tem calçada, se você for almoçar num restaurante popular, você tem que ir necessariamente pelo meio da rua, porque as calçadas não te dão condições de tráfego, se for atravessar uma faixa de pedestres você tem que ir pelo meio da rua porque a faixa não vai de encontro a uma rampa que deveria ter, tu vais numa lanchonete/bar se precisar utilizar o banheiro este não vai ser adaptado para um cadeirante. O fato de eu estudar e ter que pegar duas conduções todos os dias pra vir à Imperatriz serve como denuncia dessa situação, espero que as empresas de ônibus criem condições de acessibilidade para as pessoas que usam cadeiras de rodas porque na verdade é um direito nosso e dever deles.

2) Algumas empresas de ônibus em Imperatriz já fixaram em suas conduções o símbolo de acessibilidade e afirmam que prestam esse serviço. Cerca de 17 ônibus são adaptados e sua queixa não confere segundo essa perspectiva. Afinal, os ônibus de Imperatriz estão adaptados?

Rapaz, eles não estão adaptados eu acho que mesmo adaptados precisa – se também adaptar a cabeça dos donos dessas empresas, dos patrões. Tem uma empresa que tem 15 ônibus adaptados pra cadeirante, mas nenhum funciona pelo menos os que passam na minha rota. Ou acontecem que os ônibus não têm manutenção daquele equipamento, ou acontece que o motorista está com preguiça de levantar de lá e vir mexer no equipamento, pois quando colocaram esses ônibus, os cobradores foram demitidos, então só tem um motorista como funcionário daquele ônibus o que torna a situação complicada. A outra empresa tem dois ônibus adaptados, essa me surpreendeu um dia desses:; eu peguei um ônibus que há tempos eu não pegava, o 2040, que não funcionava, tava quebrado. Um dia desse ele parou e me trouxe até a UFMA, e eu fiquei surpreso. Eu até falei com o motorista: “olha, bota esse ônibus nessa linha porque o cadeirante que usa sempre essa linha sou eu”. No outro dia os donos dessa empresa tiraram o ônibus da linha, ou seja, a cabeça dos donos dessas empresas precisam também se adaptar a essa condição.

4) O seu discurso no movimento estudantil se equipara aos seus discursos partidário, de movimento social e religioso. Essa interconexão foi o que te permitiu optar pelo PSOL, MST e Teologia da Libertação?

Eu só estou no PSOL e no MST por causa da Teologia da Libertação e só fui da Teologia da Libertação porque eu me formei cristão dentro de uma comunidade católica que seguia essa linha da Igreja Católica, apesar de hoje eu estar sem religião nenhuma por causa de outras decepções com a própria Igreja. Ma, mas, o meu posicionamento político veio a partir da Teologia da Libertação, então, minha consciência política, de movimento estudantil e de Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra veio a partir da Teologia da Libertação.

5) Vocês têm tecido duras críticas à Igreja Católica, principalmente aos segmentos opostos a Teologia da Libertação, As críticas vão desde o comportamento conservador do clero à “acomodação” da Renovação Carismática em relação aos problemas sociais. Isso possui alguma relação com o fato de você não ter não ter concluído suas atividades no seminário e por conseqüência não ter alcançado o grau de sacerdote?

Não, porque, quando eu entrei no seminário eu já tinha essas críticas. Eu acho que (podem concordar ou não comigo, mas esse é meu ponto de visa e o ponto de vista da parte da igreja que eu seguia) a Igreja tem que ter um olhar diferente para as pessoas e para o mundo. São questões que estão muito na tradição e no passado. Ela tem um comportamento do século XVIII que eu acho que deveria ser mexido nesse momento que vivemos. A Teologia da Libertação traz essa ponta de esperança onde a Igreja assume uma opção preferencial pelos pobres, onde o pobre não é pobre porque Deus quis, mas porque existe alguém que surrupiou todos os bens que ele poderia ter para ter uma vida digna. A minha crítica vinha antes de entrar na Igreja, inclusive no seminário tivemos várias discussões por conta disso.

6) O vídeo “Não Vale” produzido pela ONG Justiça nos Trilhos mostra uma série de denúncias contra a mineradora Vale, principalmente da falta de sinalização adequada na via férrea ao longo do corredor da Estrada de Ferro Carajás (Parauapebas / PA – São Luís / MA). Você é uma das lideranças que tece duras críticas a mineradora, quando denuncia a poluição causada pelas carvoarias da Vale no assentamento Califórnia e no distrito Pequiá de Baixo, Município de Açailândia - MA. Você não tem medo de represálias ou de atentados contra a sua vida?

Rapaz. Olha, medo eu acho que posso dizer que não tenho, mas o medo faz parte da segurança da gente, se eu tenho medo de ir por aquela rua e eu preciso ir por aquela rua eu já vou mais precavido de alguma coisa, porém, eu acho que a Vale por ser uma mineradora mundialmente conhecida, ela não se importaria de (sei lá) eu acho que um “caiderantesinho velho qualquer desse que mora em Açailândia não faz nenhum medo pra ela não”. Em relação a Vale não, se fosse em outros tempos eu teria medo, mas em relação a Vale eu não tenho medo. Posso até me decepcionar em relação a isso, mas acho que ela não teria coragem de fazer nada contra a vida de ninguém, nem a minha, nem a do padre que ajuda a gente, nem dos colegas que fazem parte lá da luta com a gente na ONG Justiça nos Trilhos.

7) O MST e a ONG Justiça nos Trilhos acusam o poder público de omissão aos abusos e submissão à Vale. Essa denúncia é grave, assim como as outras, mas nada de concreto foi definido sobre essas questões. As denúncias foram feitas no vídeo “Não Vale” produzido pela ONG.  O que te leva a crer que o poder público é omisso e submisso à Vale?

Rapaz o que demonstra claramente ali, é que a Vele consegue ter o controle político da região, das Prefeituras, do governo estadual. A Vale só conseguiu instalar uma carvoaria do lado do assentamento porque na época era a governadora Roseana Sarney que concedeu a autorização. Então agente sabe dessas “maracutaias” que existem, apesar de hoje parecer existir um pequeno conflito entre a Vale e o Edson Lobão, não sei até que ponto isso é verdadeiro ou falso, o que eu sei é que a Vale tem esse controle político (econômico) dessas instituições, tanto municipais como estaduais e principalmente federais.

8) Depois da apresentação da Peça “Que trem é esse?”, promovida pela ONG na Semana H de história realizada ano passado na UEMA, ficou nítido o interesse de setores ligados ao movimento estudantil em relação à proposta da implantação do comitê da ONG Justiça nos trilhos em Imperatriz – MA. De que os estudantes podem contribuir nas atividades da ONG aqui em Imperatriz?

A ONG precisa desse reforço, talvez esteja aí um bom momento e uma oportunidade de trazer as atividades dessa campanha para Imperatriz. Por exemplo, teve algumas atividades lá em Açailândia em que estudantes de Jornalismo foram participar. A professora Msc. Emilene participou de algumas reuniões, tem contato com os padres combonianos, desenvolveram alguns trabalhos, só que houve um distanciamento depois. Os estudantes da UEMA de história, letras, pedagogia podem contribuir e os estudantes de Jornalismo da UFMA também, cada um na sua área de formação. Isso talvez seria o pontapé inicial para trazer a ONG pra cá (Imperatriz).

9) Imperatriz não está inserida nesse eixo do corredor da Estrada de Ferro Carajás, onde acontece a maior parte dos abusos denunciados pela ONG. Qual seria a linha de ação da ONG Justiça nos Trilhos em Imperatriz caso esse comitê seja criado?

Olha, na verdade, essa pergunta eu acho que o Padre Dário poderia ter mais facilidade para responder ou então o nosso advogado que é o Danilo (não sei o sobrenome dele, é um sobrenome enrolado), mas eu posso dizer o seguinte: Justiça nos Trilhos, a ONG, a campanha faz um levantamento dos crimes causados por onde passa os trilhos da Vale. Eu não sei até que ponto poderia se estender isso a Imperatriz mas é por aí”. Se os trilhos da Vale passam por aqui então tem que ser dito. No entanto, nossa maior briga agora (mesmo que a gente não impeça) é contra a duplicação da ferrovia (Estrada de Ferro Carajás) que já começou.

* Entrevista produzida para a disciplina de Gêneros Jornalísticos

Hilton Marcos Ferreira | Qua, 25 de Maio de 2011 12:47 | atualização 20:24

http://www.imperatriznoticias.com.br/noticias/geral/3469-cadeirante-denuncia-dificuldades-de-conviver-com-a-estrutura-urbana-da-cidade

Cortejo de casal extrativista interdida BR e ferrovia Carajás

José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva,
mortos na terça-feira. Foto: Divulgação

Manifestação começou às 4h em Marabá. Vias foram liberadas após passagem de cortejo

Aproximadamente mil trabalhadores integrantes de movimentos sociais interditaram a BR-222 e a Estrada de Ferro Carajás na manhã desta quinta-feira, em Marabá, cidade a 440 quilômetros de Belém, no Estado do Pará. O ato foi de protesto contra o assasssinato dos extrativistas Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio da Silva, mortos a tiros de espingarda na terça-feira (24), em Nova Ipixuna, a 390 km da capital paraense. As vias ficaram bloqueadas das 4h às 10h45. No momento, de acordo com a Polícia Militar, 3 mil manifestantes estão na entrada do Cemitério da Folha 29, onde será realizado o enterro do casal, em Marabá.

Durante a manifestação, os trabalhadores afirmaram que ferrovia e a rodovia seriam liberadas somente após a passagem do cortejo fúnebre. A interdição da ferrovia Carajás obrigou um trem da Companhia Vale do Rio Doce a retornar para sua estação em Marabá. Às 10h, um congestionamento de aproximadamente 15 quilômetros foi registrado na BR-222.

Integrantes do Movimento Sem Terra (MST) ameaçaram queimar o veículo de uma rádio local que estava à margem da rodovia interditada.

Velório

Na quarta-feira (25), revolta e preocupação marcaram o velório em homenagem ao casal no Cemitério da Saudade. Durante todo o dia, representantes do MST, Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) - ONG fundada por Chico Mendes -, Fórum da Amazônia Oriental (Faor), que reúne ONGs e movimentos sociais com atuação no Maranhão, Pará, Amapá e Tocantins, prestaram suas últimas homenagens aos extrativistas e protestaram contra a sua morte. Pelo menos 100 membros dessas entidades estão na cidade para o enterro do casal.

Ameaças

Em novembro do ano passado, durante evento que discutiu a preservação da floresta amazônica, José Cláudio da Silva classificou como “assassinato” a derrubada de árvores da região e disse que “vivia com a bala na cabeça” por causa das constantes denúncias contra madeireiros. “Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora, porque eu vou pra cima, eu denuncio os madeireiros, eu denuncio os carvoeiros e por isso eles acham que eu não posso existir”, disse.

Ele ainda declarou. “A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a Irmã Dorothy querem fazer comigo. Eu estou aqui conversando com vocês, daqui um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci. Me perguntam: tenho medo? Tenho, sou ser humano, mas o meu medo não me cala. Enquanto eu tiver força pra andar eu estarei denunciando aquele que prejudica a floresta”, afirmou.

O casal vivia há 24 anos em Nova Ipixuna. Eles moravam em uma área de aproximadamente 20 hectares, com 80% de área verde preservada, e viviam da extração de óleos de andiroba e castanha.

Leia mais notícias sobre o caso:


Wilson Lima, enviado a Marabá | 26/05/2011 10:09 - Atualizada às 11:04

http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/pa/cortejo+de+casal+extrativista+interdida+br+e+ferrovia+carajas/n1596979647101.html

domingo, 22 de maio de 2011

domingo, 15 de maio de 2011

Domingo Espetacular vai até a África saber mais sobre a história da escravidão




O Brasil comemorou nesta semana o fim da escravidão no país. Para falar sobre o assunto, repórteres da Record fizeram, em dois meses, uma grande matéria mostrando lugares e documentos que registraram esta triste história responsável, até os dias de hoje, por grandes problemas na sociedade brasileira e de países africanos.

33' 38'' | R7 | publicado em 15/05/2011 às 22h40

http://noticias.r7.com/videos/domingo-espetacular-vai-ate-a-africa-saber-mais-sobre-a-historia-da-escravidao/idmedia/665b11d2a41d3fc69c7d043019d507bf.html

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Porões da escravidão





PHA: "Exclusivo. Nossos repórteres desembarcam na África e encontram registros que mexem com a história da escravidão.

PHA: "Você vai conhecer os locais onde os escravos eram torturados.

PHA: "O porto de onde eles partiam em direção ao Brasil.

PHA: "E as revelações surpreendentes sobre a rede sagrada que sustentava a escravidão.


(...)

PHA: "E você vai ver também: Quem foi Lacraia?

PHA: "Negro, pobre e homossexual.

PHA: "O dançarino que superou o preconceito e se tornou um dos símbolos dos bailes funks do Brasil."

Domingo Espetacular desembarca na África e revela detalhes da época da escravidão
  • Domingo, às 20:30
R7 | publicado em 12/05/2011 às 09h25

http://noticias.r7.com/videos/domingo-espetacular-desembarca-na-africa-e-revela-detalhes-da-epoca-da-escravidao/idmedia/3c394b5180cbafc8b34d5d0c51eac093.html

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Pernambuco terá cinco novas barragens, como parte da política nacional de prevenção

O estado de Pernambuco terá cinco novas barragens para contenção de bacias hidrográficas, sendo que duas delas – Panelas II e Gatos – cujos convênios foram firmados nesta sexta-feira (13/5) pela presidenta Dilma Rousseff e o governador Eduardo Campos, em Brasília (DF), já estão em processo de licitação, e as outras três em fase de elaboração dos projetos. A informação foi apresentada pelo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, após audiência com a presidenta Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto.

De acordo com Fernando Bezerra, os projetos básicos e executivos das três outras barragens serão concluídos por volta do mês de agosto, quando então serão celebradas novas parcerias. O investimento global das cinco barragens – completou Bezerra – será da ordem de R$ 640 milhões, sendo R$ 320 milhões de aporte federal e os outros R$ 320 milhões do governo do estado.

    “Essa é mais uma demonstração inequívoca do governo federal de dar a virada na política nacional de defesa civil, ampliando os investimentos na linha da prevenção, no sentido de evitar que novas tragédias possam se repetir nessa importante região do estado de Pernambuco”, afirmou o ministro.

Após o relato do ministro da Integração, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, conversou com os jornalistas e explicou que a meta do governo é chegar, até o fim de 2011, com as obras das cinco barragens já iniciadas.

    “Duas delas tem um prazo de construção de um ano e outras três com um prazo que pode chegar a dois anos”, informou.

O governador afirmou que o estado realizou um levantamento topográfico das bacias hidrográficas e desenvolveu, a partir dos dados coletados, um sistema de monitoramento com informações a cada 15 minutos. Segundo Campos, esse levantamento “foi fundamental para que em 2011 não houvesse nenhuma vítima”.

    “Então o sistema de monitoramento e prevenção já funcionou este ano”, disse.

Segundo dados da Defesa Civil, o estado de Pernambuco tem hoje 14 mil famílias desalojadas ou desabrigadas em decorrência das chuvas. O governador informou que, no momento, 12 mil casas estão sendo construídas; diversas rodovias que foram avariadas sendo reconstruídas; o abastecimento de água foi restabelecido e a ligação com os municípios afetados foi refeita.

    “Estamos prosseguindo com uma série de obras que estavam ocorrendo nessa região; uma parte delas foi danificada. Estamos recomeçando”, concluiu.

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Blog do Planalto | Sexta-feira, 13 de maio de 2011 às 18:58

http://blog.planalto.gov.br/pernambuco-tera-cinco-novas-barragens-como-parte-da-politica-nacional-de-prevencao/

Churrascão da “Gente Diferenciada” em Higienópolis



O anúncio de que o Metrô de São Paulo mudou o local que abrigaria uma das suas estações, no bairro de Higienópolis, tradicional bairro de elite da capital paulista, levou a região ao ranking dos assuntos mais comentados do dia no Twitter - com todas as piadas que essa posição significa. Além disso, no Facebook, milhares de paulistanos aderiram ao “Churrascão da Gente Diferenciada”, marcado para acontecer no sábado, em frente ao shopping que leva o mesmo nome do bairro.

Isso acontece porque, em agosto de 2010, uma associação de moradores de Higienópolis anunciou que se opunha à construção da estação na região. A justificativa oficial, que acabou abraçada pelo governo do Estado, é que a estação da linha 6-laranja, que vai ligar a zona norte ao centro da capital paulista, ficava próxima demais, a 610 metros, da futura estação Higienópolis-Mackenzie, e longe demais, a 1.500 metros, da estação PUC-Cardoso de Almeida. A linha tem previsão de ficar pronta em 2017. Segundo o Metrô, o projeto da localização da futura estação Angélica está sendo reavaliado visando ao melhor equilíbrio da linha e para atender usuários moradores das áreas da região do Pacaembu, bairro vizinho a Higienópolis.

O problema, para Higienópolis, é que alguns moradores da região se colocaram contra a obra porque ela atrairia, segundo uma moradora entrevistada pelo jornal Folha de S.Paulo, “drogados, mendigos, uma gente diferenciada..." Foi o bastante para que a expressão “gente diferenciada”, que já tinha sido destaque no Twitter em 2010, voltasse à baila na tarde desta quarta-feira – e desse nome ao "churrascão". Além disso, não foi a primeira vez que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) recuou diante de pressões contra o metrô: a mesma coisa aconteceu em um bairro da zona sul da cidade, que também conseguiu barrar uma estação, da linha amarela.

Com informações do IG | Postado por Erick da Silva | Sexta-feira

http://aldeia-gaulesa.blogspot.com/2011/05/churrascao-da-gente-diferenciada-em.html

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Metrô de Higienópolis: São Paulo continua um burgo murado


Higienópolis não vai ter mais estação de metrô. Após pressão de moradores e empresários do bairro chique da capital paulista, o governo estadual desistiu de construir uma estação de metrô na avenida Angélica – a principal artéria da região. “Prevaleceu o bom senso”, afirmou fofamente o presidente da Associação Defenda Higienópolis, o empresário Pedro Ivanow. A estação integraria a linha 6, que deve ir de Brasilândia ao Centro (deve, porque em se tratando do metrô de São Paulo, tudo é ficção até que a inauguração prove o contrário). De acordo com o UOL Notícias, alguns moradores alegam que o metrô aumentaria o “número de ocorrências indesejáveis” e a área se tornaria “um camelódromo”. Lugar de gente fedida que atazana a vida da gente de bem.

O caso provocou uma onda de reações na internet contra a decisão do governo do Estado de privilegiar uma minoria em detrimento à execução de uma política pública de transporte que beneficiaria milhares de trabalhadores. As manifestações incluem até um churrascão, convocado pelo Facebook, a ser “realizado” na manhã deste sábado (14), em frente ao Shopping Higienópolis para comemorar a decisão bisonha.

Esse tipo de preconceito não é monopólio nosso. Por exemplo, o bairro de Georgetown, localizado em Washington DC, capital dos Estados Unidos, não tem estação de metrô. A despeito de supostas dificuldades técnicas para levar o trem subterrâneo até a endinheirada localidade, onde se encontram lojas de grife e restaurantes famosos, os moradores de lá – como os de Higienópolis – também pressionaram contra a abertura de uma estação. Quem quiser chegar tem que ir por cima ou andar mais de 1,5 quilômetro da estação de metrô mais próxima.

Mas São Paulo vai se aprimorando na arquitetura e no urbanismo da exclusão. O tema não é exatamente novo e ocupou espaço na mídia, por exemplo, quando o ex-prefeito José Serra resolveu implantar no complexo viário da avenida Paulista as chamadas rampas antimendigo, grandes blocos de concreto que impedem o povo de rua de montar sua casinha imaginária para se proteger do tempo e do mundo. E proteger, dessa forma, a gente de bem que estaria sendo assaltada durante as longas pausas dos congestionamentos. A mudança no traçado do metrô teve o objetivo claro de excluir, mais do que aproximar, alimentando mais ainda a ignorância que gera a intolerância, o medo e as cercas eletrificadas que circundam casas e apartamentos de luxo.

Logo após a fundação da vila de São Paulo de Piratininga, José de Anchieta, com a ajuda de índios catequizados, ergueu um muro de taipa e estacas para ajudar a mantê-la “segura de todo o embate”, como descreveu o próprio jesuíta. Os indesejados eram índios carijós e tupis, entre outros, que não haviam se convertido à fé cristã e, por diversas vezes, tentaram tomar o arraial, como na fracassada invasão de 10 de julho de 1562.

Ao longo dos anos, a vila se expandiu para além da cerca de barro, que caiu de velha. Vieram os bandeirantes – hoje considerados heróis paulistas -, que caçaram, mataram e escravizaram milhares de índios sertão adentro. Da África foram trazidos negros, que tiveram de suportar árduos trabalhos nas fazendas do interior ou o açoite de comerciantes e artesãos na capital. No início do século 19, a cidade tornou-se reduto de estudantes de direito, que fizeram poemas sobre a morte e discursos pela liberdade. Depois cheirou a café torrado e a fumaça de chaminé, odores misturados ao suor de imigrantes, camponeses e operários. Mas, apesar da frenética transformação do pequeno burgo quinhentista em uma das maiores e mais populosas metrópoles do mundo, centro financeiro e comercial da América do Sul, o muro ainda existe, agora invisível. E, 457 anos após a fundação de São Paulo, esse mesmo muro impede o acesso dos excluídos ao centro do burgo paulistano. Mesmo que seja apenas para trabalhar para os mesmos senhores que negam a eles o mais básico dos direitos: o direito à livre locomoção.

O muro não é mais feito de taipa, mas de abaixo-assinados que votam por manter o bairro nobre supostamente protegido contra os seres de fora (que devem existir para servir e não para ter liberdade para irem onde quiserem na hora que quiserem). E de políticos que existem para cumprir os desejos de determinadas classes sociais a que eles pertencem ou que financiam suas campanhas.

Tolos. Mal sabem que o futuro de todos na cidade está profundamente conectado. No final, a urbe vai ser para todo mundo – ou não será de ninguém.

Blog do Sakamoto | 11/05/2011 - 17:34

http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/05/11/metro-de-higienopolis-sao-paulo-continua-um-burgo-murado/

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Clã Brasil & Sivuca - Feira de Mangaio


Vídeo extraído do DVD do grupo paraibano de forró pé-de-serra Clã Brasil, gravado no Teatro Paulo Pontes (Espaço Cultural), em João Pessoa.

Enviado por raapolo em 04/04/2007

Mais vídeos, músicas e informações acesse: www.clabrasil.com.br

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domingo, 8 de maio de 2011

Governo demotucano: São Paulo não é mais o estado mais rico do Brasil


Os quatrocentões paulistas, que gostam de dizer que o estado é a “locomotiva do Brasil”, não poderão mais usar essa expressão. Segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas, depois de mais de 16 anos de gestão demotucana, São Paulo foi ultrapassado por Santa Catarina e Rio de Janeiro na condição de estado que tem a maior renda média. Por sua vez, no governo Lula, o País conseguiu reduzir a pobreza em 50,64%. A pesquisa também mostra que, de 2002 a 2010, os maiores ganhos reais de renda foram em grupos tradicionalmente excluídos. O Limpinho reproduz texto publicado no Portal G1. O editor deveria estar dormindo quando deixou sair uma matéria dessas.

FGV: Taxa de desigualdade no Brasil atinge mínima histórica

Desigualdade é a menor desde que começou a pesquisa, em 1960

A taxa de desigualdade no Brasil caiu à mínima histórica no final de 2010, segundo estudo divulgado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV) na terça-feira, dia 3. Em oito anos – de dezembro de 2002 a dezembro de 2010 –, o País conseguiu reduzir a pobreza em 50,64%, de acordo com a pesquisa “Desigualdade de Renda da Década”.

“Em oito anos, no governo Lula, foi feito o que era previsto para 25 anos, de acordo com a Meta do Milênio da Organização das Nações Unidas, que era reduzir a pobreza em 50% de 1990 até 2015”, ressaltou o economista Marcelo Neri, coordenador do CPS/FGV.

A taxa de desigualdade, medida pelo índice de Gini, ficou em 0,5304 em 2010, a menor desde 1960, quando começou a pesquisa. Quanto mais perto de 1, mais desigual é o país. “Os principais motivos para isso foram, principalmente, a educação e, em menor parte, os programas sociais”, explicou Neri.

Entretanto, o economista diz que, quando comparado com outros países, ainda é “estupidamente alto, porém menor do que antes” o nível de desigualdade no Brasil. “Se é uma má notícia que a nossa desigualdade ainda é alta, a boa notícia é que ela deve cair. O que os dados mostram é que a queda continua”, destacou.

Renda dos mais pobres cresceu mais do que dos mais ricos

De acordo com a pesquisa, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE), a renda dos 50% mais pobres no Brasil cresceu 52,59%, entre 2001 e 2009, enquanto a renda dos 10% mais ricos do País cresceu 12,8%. Isso significa dizer que a renda da classe baixa teve crescimento de 311% na comparação com os mais abastados.

Marcelo Neri também destacou conclusões da pesquisa que, para ele, foram inesperadas. “Fiquei muito surpreso com os dados”, disse o economista, ao mostrar que, de 2001 a 2009, os analfabetos obtiveram ganhos de 47%, enquanto quem tem nível superior teve queda de 17% na renda. No mesmo período, as pessoas de cor preta ganharam aumentos na renda de 43%, enquanto os brancos tiveram 21% de alta. Já as mulheres tiveram ganho na renda de 38%, contra 16% dos homens. “O que está ‘bombando’ é o mercado da base: empregadas domésticas, trabalhadores da construção civil, agricultores”, ressaltou, em tom informal, o economista.

São Paulo não é o mais rico e Maranhão, o mais pobre

A pesquisa mostrou que os chamados “grotões” brasileiros estão em alta, já que entre 2001 e 2009 os “maiores ganhos reais de renda foram em grupos tradicionalmente excluídos”. Segundo o estudo, Alagoas é, hoje, o estado com a pior renda média per capita do país. E, no mesmo período, o Maranhão, que era o estado mais pobre, teve ganhos na renda da população de 46%.

Já os estados de Santa Catarina e do Rio de Janeiro passaram São Paulo na condição dos que tem a maior renda média. “A migração do Nordeste para o Sudeste diminuiu bastante, com o inchaço das grandes cidades. O campo está se tornando mais atrativo”, observou Neri.

Em 30 anos, Brasil pode estar equiparado aos EUA

O coordenador da pesquisa explicou que o Brasil ainda “vai demorar uns 30 anos para ter um nível de desigualdade parecido com o dos Estados Unidos”, que, segundo Neri, está em 0,42. “Apesar de a economia brasileira não estar crescendo tanto, a renda dos mais pobres cresce em patamares chineses, enquanto a dos mais ricos está estagnada”, comparou Neri.

Entretanto, para o economista, a tarefa agora é mais complicada. “Vamos ter mais dificuldades para erradicar, pois esta terça parte que falta é o núcleo da pobreza no País”, explicou.

Para a próxima década, Marcelo Neri afirma que é preciso melhorar a qualidade da educação, continuar investindo em programas sociais e realizar obras de saneamento básico. “E é preciso fazer mais com menos recursos, pois não podemos aumentar mais ainda a nossa carga tributária”, acrescentou.

“As razões de meu otimismo são proporcionais ao tamanho dos problemas que temo hoje. A escolaridade no Brasil é ridícula, por isso acho que ainda temos muito a avançar”, finalizou.

Limpinho & Cheiroso | 4 Mai. 2011, 11:21

http://limpinhocheiroso.blogspot.com/2011/05/governo-demotucano-sao-paulo-nao-e-mais.html

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Contrariar interesses empresariais, a agenda silenciosa de Dilma

Passados os primeiros cem dias de mandato, presidenta começa a impor uma agenda própria disposta a aproveitar maioria política e fragilidade de adversários para enfrentar alguns interesses empresariais que atrapalhariam o desenvolvimento e o interesse nacional. Bancos e telefônicas já sofrem com os planos governistas.

André Barrocal

BRASÍLIA – O principal assunto dos cem primeiros dias da gestão Dilma Rousseff, a consumir a energia presidencial, foi o combate da inflação. A pressão sobre os preços é anterior à posse de Dilma e, na avaliação do Palácio do Planalto, parece sob controle, graças a uma combinação de ações do Ministério da Fazenda e do Banco Central. Com isso, aos poucos, o governo começará a impor sua própria agenda. Foi o que fez ao lançar, dia 28 de abril, programa para incentivar o ensino em escolas técnicas, o Pronatec. Em maio, anunciará plano contra a pobreza, principal bandeira da atual administração.

São iniciativas que o governo faz questão de divulgar com pompa, em solenidades com a presidenta. Mas há também uma agenda silenciosa, sobre a qual se fala de forma mais discreta, em gabinetes e corredores. Aproveitar a folgada maioria no Congresso e a fragilidade dos adversários para, mesmo fora do ambiente parlamentar, enfrentar e contrariar interesses empresariais que atrapalhariam o desenvolvimento e o interesse nacional.

No mesmo dia em que anunciou o Pronatec, por exemplo, Dilma assinou medida provisória (MP) que permite aos Correios montar um banco e atuar como operadora de telefone celular. A intenção é botar a estatal para acossar o sistema financeiro e as telefônicas e derrubar o preço das tarifas cobradas da população nas duas áreas.

O ministério das Comunicações, a quem os Correios se subordinam, tem orientação "incisiva" de Dilma, de acordo com o ministro Paulo Bernardo, para tocar o Plano Nacional da Banda Larga (PNBL) a todo o vapor. É um projeto que também bate de frente com as telefônicas, que praticam preços que o governo considera altos demais e agora, vêem a rediviva Telebrás no seu encalço.

Dias antes de assinar a MP dos Correios, Dilma havia convocado à sua sala o presidente de quatro bancos públicos – Banco do Brasil, do Nordeste, da Amazônia e Caixa Econômica Federal – para cobrar que façam mais empréstimos do tipo “microcrédito”. É uma modalidade de crédito criada no governo Lula para pessoas pobres pegarem dinheiro a juros mais baixos, mas que o sistema financeiro boicota, por falta de interesse (lucro).

Ainda em abril, o governo viu sacramentar a troca no comando na Companhia Vale do Rio Doce, cujo ex-presidente, Roger Agnelli, tinha uma filosofia que desagradava o Palácio do Planalto desde a gestão Lula. A mudança resultou de uma operação liderada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, com respaldo de Dilma. O governo acredita que, com o novo presidente, Murilo Ferreira, conseguirá influenciar a Vale a ter uma postura mais favorável ao que entende ser do interesse nacional. Exemplo: finalmente tirar do papel a construção de siderúrgicas no Brasil, em vez de só exportar minério de ferro.

A troca da direção da Vale é um caso ilustrativo de como o governo tira proveito político da fragilidade atual dos adversários. Se a oposição não estivesse reduzida e desarticulada, aposta-se que Agnelli teria mais chance de resistir no cargo. Ele apelaria a aliados no PSDB e no DEM para acertar alguma forma de reação no Congresso ou junto à opinião pública que poderia ter feito o governo abandonar a pressão.

Bancos, alvos preferenciais

O governo prepara-se ainda para instituir um fundo de pensão exclusivo para funcionários públicos, a fim de utilizá-lo como arma de captação de recursos e, com isso, também “contrariar interesses”. É possível criá-lo desde 2003, quando o Congresso alterou a Constituição para servidor público pagar contribuição previdenciária a um fundo específico. Mas não nasceu até hoje porque depende de lei. É um projeto com tal proposta de lei que o governo finalizará em breve.

O Palácio do Planalto calcula que, com a contratação federal média de 20 a 25 mil servidores por ano, o fundo tem potencial para ser tão poderoso quanto a Previ, dos trabalhadores da Petrobras, o maior da América Latina, com patrimônio superior a R$ 150 bilhões.

No controle do fundo, que por um tempo apenas coletará dinheiro, sem ter de pagar aposentadorias, o governo escolherá onde investir. Poderá usá-lo, por exemplo, para rolar a própria dívida pública, a juros menores, contrariariando o “mercado” de novo. Fundos de pensão detém hoje 15% da trilionária dívida federal, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, que tem feito reuniões com gestores de fundos para incentivá-los a comprar mais títulos públicos.

Os banqueiros, aliás, serão alvos preferenciais da disposição presidencial de “contrariar interesses”. Como ela disse em viagem recente à China, o país tem “o grande desafio” que “vai ter de enfrentar, pelo menos desta vez”, de derrubar a taxa real de juros, a maior do planeta. A equipe econômica recebeu a orientação de Dilma de estudar como fazer para diminuir os chamados spreads bancários, pedaço das taxas de juros que se reverte em lucros bancários. “O mercado será um foco de tensão permanente com o governo”, afirma um assessor do Palácio do Planalto.

Mesmo no processo de domar a inflação, agenda herdada de 2010, o governo já enfrenta o “mercado” e os bancos. A presidenta dá apoio total para que a área econômica enfatize o uso de medidas alternativas ao juro do BC contra o aumento dos preços. Ela acredita que, quanto menos a taxa do Banco Central subir agora, menor será o patamar a partir do qual o governo terá de forçar sua redução até níveis "compatíveis com as taxas internacionais", como diz Dilma.

Ao montar a cúpula do BC, a presidenta já havia sinalizado suas intenções. Dos sete diretores, cinco são funcionários de carreira do banco, sem passagens pelo “mercado” - portanto, menos suscetíveis às influências do pensamento no setor.

André Barrocal | Carta Maior | 02/05/2011

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17744&boletim_id=900&componente_id=14608