Mesmo assim, o partido endurece o jogo contra Dilma
Inacreditável, mas rigorosamente verdadeiro: embora esteja mais para quadrilha organizada e confraria de picaretas do que para partido político, o Partido da República (PR) resolveu peitar o Governoe redobra exigências e exige satisfações. Este é o grau de avacalhação (a palavra é dura, mas é adequada) a que chegaram as relações do Planalto com sua base aliada. Tudo em nome da governabilidade.
Convidado pela presidente Dilma para ocupar o lugar do demitido Alfredo Nascimento no Ministério dos Transportes, Blairo Maggi, ex-governador de Mato Grosso e atual senador, faz doce, pede tempo para pensar, diz que está mais preocupado com seus negócios e, finalmente, manda o recado: exige uma satisfação em relação ao “mal tratamento” sofrido por seu protegido Luiz Antonio Pagot, diretor do Dnit, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
Este, por sua vez, está na cota de demitidos da cúpula do Ministério. A demissão só não teria sido formalizada porque, oportunamente entrou de férias, segundo ele, por recomendação da chefe da Casa Civil da Presidência, Gleisi Hoffmann. Esta, porém, nega ter feito tal sugestão.
Pagot segue , assim, como moeda de troca. E prossegue a novela cada vez mais enrolada, exatamente como quer e recomenda Valdemar Costa Neto, o verdadeiro dono PR e presumível agenciador de todas (quase todas) as negociatas operadas no Ministério. Sua estratégia resume-se nesta máxima: “O negócio é deixar a onda passar”.
Enquanto isso, prestigiado pelo chefe Maggi, Pagot enche o peito e fornece uma pequena mostra do que pretende dizer caso seja chamado a depor na Comissão de Ética do Senado que deverá investigar Nascimento: “O diretor de Infraestrutura do Dnit, Hildebrando Caron (filiado ao PT), é responsável por 90% das obras”.
Há quem diga que Dilma não recuará de sua decisão de demitir Pago. E há quem acredite que, assim com Lula fez tantas vezes, ela engolirá mais este sapo.
Tudo isto está mais para crônica policial que política. Por isso mesmo, cabe a pergunta: Vale a pena para o Governo e para o PT chafurdar nesse lodo de corrupção e chantagens? Tudo é feito em nome da governabilidade. Mas que governabilidade é está?
Ainda há uma meta ou algum vago projeto socialista que justifique tantos meios escusos e tanta concessão fisiológica a partidos como o PMDB e o PR que são escancaradamente instrumentos de uma pacto conservador, tanto do Grande Capital (principalmente o Financeiro e o Agrário) como de certas seitas fundamentalistas e espantosamente retrogradas?
Do jeito como as coisas ficaram arrumadas, não é o PT e o Governo que usam a aliança no seu interesse. Eles são usados. Tanto que a mídia, serva obediente do Capital Financeiro, está cada vez mais dilmista.
A grande distorção da política brasileira e que deveria estar sendo denunciada pelo PT e servindo de argumento para a convocação de uma Constituinte é a de que o Grande Capital, através dos partidos fisiológicos e dos ideologicamente de direita, ocupa mais de 70 % das cadeiras do Congresso. De que valeram, afinal, os 50 milhões de votos obtidos pro Dilma?
Francisco Barreira | 08-07-11
O “Jeito Dilma” de fritar “companheiros”
Na quarta-feira à noite, a presidenta Dilma Rousseff convidou o senador do PR e ex-governador de Mato Grosso, Blairo Maggi para assumir o Ministério dos Transportes no lugar de Alfredo Nascimento que ainda nem tinha sido demitido oficialmente. Blairo pediu 48 horas para pensar e para consultar as lideranças do partido.
O ex-governador matogrossense é um dos dez maiores latifundiários do Brasil, o maior produtor individual de soja do Mundo e um aos maiores desmatadores do de todos os tempos. Pelo menos em Mato Grosso, ninguém pode dizer que abateu tantas árvores quanto ele.
Ao convidá-lo para substituir Nascimento, a presidenta mirava três objetivos:
1- Não travar as negociações, com o PR, considerado um aliado importante com seus 42 deputados e seis senadores.
2- Precaver-se contra as ameaças de Luiz Antônio Pagot, amigo íntimo e homem de confiança de Maggi. Ao saber que seria demitido do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), um dos maiores focos de corrupção do MT, ele circulou pelo Senado, terça-feira, dizendo-se magoado com o Governo e insinuando que não deixaria barato o desaforo.
3- Eliminar, através de um fato consumado e da nomeação de um senador, qualquer possibilidade de articulação por parte do inescrupuloso deputado Valdemar Costa Neto, secretário-geral do PR e que age como dono do pedaço, sendo considerado a principal peça de todas as negociatas, num ministério recordista nesta modalidade.
Valdemar, aliás, é do tipo que não esquenta, calejado que está com todos os tipos de escândalo. Na quarta-feira ele dizia, fazendo graça para os amigos, que ainda não sabe, mas vai descobrir, se as informações sobre as falcatruas estão sendo passadas para imprensa pelo Palácio do Planalto ou por elementos do próprio PR.
O agonizante ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, pediu demissão quarta-feira à tarde. Mesmo assim, agora que volta a ser senador, dispôs-se comparecer às várias Comissões do Senado, inclusive a de
Ética, para tentar explicar a inexplicável e escancarada roubalheira que há sete anos ocorre debaixo de seu queixo, no Ministério.
A presidenta Dilma cumprirá a promessa de nomear um substituto filiado e indicado pelo PR, partido do Nascimento e do Garotinho que há pouco mais de um mês, como autêntico chantagista, referiu-se a Palocci como “uma jóia de 20 milhões de reais.
Mas ela não esconde sua preferência por Paulo Sérgio Passos, um técnico que como secretário-geral, está ocupando interinamente o cargo de ministro.
Como este blog revelou, há três dias, as informações sobre irregularidades no MT vazaram para a imprensa diretamente do Palácio do Planalto. Na verdade, a presidenta Dilma tem “a maior bronca” contra Nascimento desde os tempos em que era chefe da Casa Civil, via tudo, mas, em nome da “governabilidade”, não podia fazer nada.
A agonia de Nascimento foi semelhante à sofrida por Palocci, há dois meses. Diariamente aparerciam novas acusações e escândalos. Quarta-feira foi a vez do filho de Nascimento, Gustavo, um jovem que aos 27 anos já acumulou uma fortuna de 50 milhões de reais, a partir de uma pequena empresa criada há dois anos.
O maior problema do ministro defenestrado foi o de ser torpedeado não apenas pelo Planalto e pelos demais partidos da base governista que estavam de olho no seu cargo, como também por seus próprios colegas do PR que queriam livrar-se dele para ver se salvavam o Ministério.
Para se ter idéia da determinação da presidenta em fritar o ministro e seus auxiliares , basta ler estas poucas linhas veiculadas pela Folha de S. Paulo também na quarta-feira:
“O governo informou na terça-feira que o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit), Luiz Pagot, será exonerado do cargo ao voltar de férias. Ele e outros integrantes do governo ligados ao PR são suspeitos de irregularidades em obras do setor, segundo reportagem da revista Veja. Um dos nomes que a presidente Dilma Rousseff já chegou a cogitar para substitui-lo é o de Hilderaldo Caron, ligado ao PT e um dos diretores do Dnit.
A decisão de exonerar Pagot foi tomada ainda na quarta-feira em reunião de Dilma com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Pagot foi ao Senado na terça-feira para se reunir com senadores do PR. Ele disse estar “magoado” com o Governo”.
Francisco Barreira | o5-07-11 atualizado em 08-07-11
Analistas e pesquisadores (historiadores em perspectiva) já detectaram a diferença essencial entre Dilma Rousseff e Lula: ela pretende ser bem menos complacente com os desvios de conduta ou corrupção escancarada dos “companheiros” que compõem a base aliada do Governo.
Lula governou sob a síndrome da necessidade de governabilidade a qualquer preço. “Se o que temos para governar é esse lixo, governaremos com esse lixo”. Ou seja, fazia-se vista grossa ou mesmo tentava-se abafar os escândalos dos indispensáveis aliados no Congresso. Na prática, criava-se uma lealdade mafiosa, ainda que o chefe não sujasse as mãos.
Seja como for, Lula jamais se conformou com o fato de ter sido derrotado, por um único e mísero voto na questão do Imposto do Cheque. Uma questão que beneficiou aos banqueiros, mas que a mídia marota conseguiu vender como uma vitória dos contribuintes.
Entretanto a questão é mais sutil e grave. Nas conversas íntimas da qual só participam os colaboradores mais próximos, o próprio Lula e algum marqueteiro ocasionalmente convocado para consultas, chegou-se ao consenso de que já está colando no PT a imagem de um partido que, mesmo que não meta as mãos na massa, faz qualquer negócio para governar.
E não é uma imagem pintada apenas pela sempre belicosa mídia ou pelos oposicionistas de profissão. É algo que como uma verruma está penetrando nas mentes da opinião pública ampla, aquela que inclui o que não são leitores habituais dos grandes jornais. E é aí que as imagens transformam-se em manchas que jamais serão extintas. Ficam perenes no eleitorado e na História.
Adhemar de Barros e Paulo Maluf, mesmo na hipótese de que jamais tivessem metido a mão em um único tostão, imortalizaram-se como ladrões e não há nada que possa ser feito contra isso.
Se subirmos o tom para alcançarmos o sociologuês, diremos que a presidente Dilma, Lula e seus colaboradores mais íntimos sabem que será um desastre se a referida imagem negativa do PT prosperar, sobretudo em meio a um eleitorado onde predomina cada vez mais a classe média recheada anualmente por novas levas de emergentes.
E este seguimento social, que já é majoritário, tradicionalmente distancia-se da luta clássica de classes (capital x trabalho) e supervaloriza no seu conceito e no seu voto, ainda que com boa dose de ingenuidade ou hipocrisia, os valores morais e éticos.
Vai daí que Dilma Rousseff pretende acrescentar ao seu modelito bem sucedido de gerente competente e exigente, um outro: o de fiadora da moralidade pública, pelo menos no âmbito do Governo. O ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, é um os principais defensores desta postura.
A fritura em si
E é nesse contesto que se dá a atual fritura do ministro Alfredo Nascimento, dos Transportes, representante do PR no bolo governamental. Todos sabem que ele não é flor que se cheire, nem muito menos o verdadeiro dono do partido, o deputado Waldemar Costa Neto, um escroque sob qualquer ângulo que se olhe: ele só não está preso porque é deputado e só não foi cassado na legislatura passada porque renunciou ao mandato.
Neste fim de semana, Dilma Rousseff analisou, com auxiliares, possibilidade de afastar Alfredo Nascimento do cargo de ministro. Alguns nomes para substituí-lo chegaram a ser selecionados. E lembremos que foi ela quem levantou a suspeita de superfaturamento no Ministério e exigiu de Nascimento o afastamento (na verdade demissão) de seus principais auxiliares.
Entretanto, nas últimas 24 horas a presidenta recuou e confirmou sua confiança em Nascimento através de nota oficial. A desculpa oferecida em off aos jornalistas foi a de que ela ainda está estudando uma forma de contornar uma possível crise com o PR que, afinal, possui seis senadores e mais de 40 deputados. É, sem dúvida, uma peça importante na base governista porque, além disso, lidera um bloco de mais sete partidos menores, somando um total de 64 parlamentares.
Há também a versão de que Waldemar Costa Neto teria ameaçado botar a boca no trombone, assim como Roberto Jefferson fizera no episódio do “Mensalão”. O estrago seria grande.
Mas a análise mais justa é que indica o seguinte: este é o jeito tortuoso que a presidenta adotou para livrar-se de Nascimento. E notem que há certa semelhança com o desfecho sofrido por Antônio Palocci que foi “prestigiado” até o momento mesmo em que subia ao patíbulo.
E tudo isto começa a fazer mais o sentido quando crescem as suspeitas (mais evidências que suspeitas) de que os detalhes sobre as picaretagens da cúpula do Ministério dos Transportes (o quarteto demitido) foram fornecidos à Veja pelo Planalto.
À la Thatcher
É famosa a entrevista da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher que, anos depois de deixar o governo, confessou que sempre que queira “fritar” um ministro mandava um assessor de confiança vazar os malfeitos do infeliz para um órgão de imprensa importante.
E ela tinha o cuidado de fazer uma espécie de rodízio. Ou seja: nunca vazar duas vezes para o mesmo veículo, para não criar privilégios ou desconfianças.
Qualquer semelhança com a “fritura” do ministro Nascimento não é mera coincidência.
Francisco Barreira | Texto de o5-07-11
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