quinta-feira, 21 de julho de 2011

Dependesse do Estadão, o Brasil nem faria aço

O Estadão, hoje, tem um daqueles momentos de sinceridade antológicos.

É o editorial intitulado “A Vale ainda não entrou na produção de aço, felizmente“.

Depois de algumas lágrimas por Roger Agnelli, o jornalão começa a entregar o seu pensamento colonial.

Por ele, o Brasil ainda seria um pequeno país atrasado, que nem mesmo produziria aço.

Comemora o fato de não aparecer um sócio capaz de colocar dinheiro no projeto da Cia. Siderúrgica de Ubu (CSU) que a Vale pretende instalar no Espírito Santo.

Como se sabe, só há dinheiro de capitalistas para investir em especulação com dólar, uma coisa extremamente mais útil ao país do que produzir aço.

Produzir aço, no Brasil, é algo supérfluo e antieconômico.

Pelo  Estadão, o Brasil só exportaria minério de ferro.

Aquela tal de Companhia Siderúrgica Nacional – esqueça os livros de história que dizem que ela foi fundamental para a industrialização do país – não deve ter passado de um arroubo populista de Vargas.

Afinal, diz o porta-voz de nossas oligarquias, nossas jazidas são “praticamente inesgotáveis”.

E desfaz da óbvia vantagem de podermos fazer aço perto das “jazidas praticamente inesgotáveis” porque  com “o uso de navios gigantescos, se tem reduzido muito nos últimos anos (o custo de se transportar milhões e milhões de toneladas de minério bruto), especialmente quando esses navios podem retornar transportando petróleo”.

Viram que beleza? Exportamos mais ferro e importamos mais petróleo. Só falta sugerir que deixemos lá este “petróleo anti-econômico” do pré-sal.

Evidente que ninguém quer que o Brasil deixe de exportar minério. Mas o que temos é de resolver os problemas estruturais que nos impedem de avançarmos, como poderíamos, na competividade em matéria de siderurgia.

Mas para que resolver problemas, se podemos vender nosso minério, fresquinho, arrancado do chão? O buraco que eles deixam, a riqueza que se vai, nada disso é importante. Importante são os lucros rápidos e de baixo investimento que fazem adorável a nossa elite colonial.

É o modo Joaquim Silvério dos Reis de pensar o Brasil.

Brizola Neto | O Tijolaço | 21 Jul. 2011

http://www.tijolaco.com/dependesse-do-estadao-o-brasil-nem-faria-aco/

Sobre o "caso Vale"

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Ariano Suassuna: um espetáculo de lucidez


Ariano Suassuna impressiona tanto pela autenticidade  como pela simplicidade ao transpor a barreira da formalidade que muitas vezes imagina-se que a cultura pressupõe.

Ariano também não se esquiva de questões políticas, sendo uma exceção dentro de um universo de intelectuais e artistas que foram inclusive imprescindíveis no processo de redemocratização, mas hoje preferem se esquivar. Uma esquiva preocupante e conveniente, diga-se. Na verdade, todos os intelectuais e artistas de projeção deveriam ser mais claros nos seus posicionamentos em relação às questões cruciais e de interesse coletivo da nação. Ariano Suassuna, paraibano, figura no grupo dos que não sobem no muro, e esta é mais uma dentre tantas razões para que não deixemos de destacá-lo.

No vídeo a seguir, o escritor fala de suas origens e da importância da cultura popular. Em seguida, o ex-presidente Lula faz algumas considerações sobre a relação que tem com Ariano. Assista:

Com Lula na platéia, Ariano Suassuna emociona e faz rir em 'Aula Espetáculo', by Pragmatismo Politico

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O vôo da Juriti


O Vôo da Juriti

(Aldo Justo / Paulo Tovar)

Meu coração tem um desejo imenso
De ver o dia nascer pelo avesso

Meu coração mão de pilão
Tem o jeito do avoar

Bota água na bacia
Que a cara do dia
Está querendo vir

Tira a tranca da janela
Que de manhã cedo eu quero ver
O vôo da juriti




terça-feira, 12 de julho de 2011

Jornalista Cristina Guimarães: “Se dependesse da Globo, eu estaria morta”

“Se dependesse da TV Globo, eu estaria morta”. A declaração da jornalista Cristina Guimarães – vencedora do Prêmio Esso em 2001, junto com Tim Lopes, pela série ‘Feira das drogas’ – promete causar polêmica e agitar os bastidores do caso que ficou conhecido em todo o país. De volta ao Brasil após passar oito anos se escondendo de traficantes da Rocinha, que ameaçavam matá-la depois de reportagem veiculada no Jornal Nacional, ela conta em livro como a TV Globo lhe virou as costas e garante que o jornalista poderia estar vivo se a emissora tivesse dado atenção às ameaças recebidas.

De acordo com Cristina, sete meses antes de Tim ser morto por traficantes do Complexo do Alemão, ela entrou com uma ação judicial de rescisão indireta, na qual reclamava da falta de segurança para jornalistas da emissora. As denúncias integram o livro que está sendo escrito por Cristina e deve ser lançado nos Estados Unidos, no início do próximo ano. A obra, segundo a jornalista e publicitária, também deve virar filme.

“Não dava para escrever meu livro no Brasil. Aqui a Globo ainda tem uma influência muito forte e a obra poderia ser abafada de alguma maneira. Com o apoio do governo americano, fica mais fácil lançar nos EUA”, pondera.

O que motivou as suas denúncias de omissão contra a TV Globo na Justiça?

Trabalhei durante 12 anos na TV Globo. Em 2001, estava fazendo produção para o Jornal Nacional junto com o Tim Lopes. Produzíamos as matérias de jornalismo investigativo do telejornal. Quando o Tim trouxe o material da feira de drogas ao ar livre na Favela da Grota (Complexo do Alemão), a chefia de reportagem me chamou e perguntou se eu conhecia outras feiras deste tipo. Respondi que na Rocinha e na Mangueira o mesmo acontecia e a chefia do JN me pediu para fazer imagens lá. Fui três vezes à Rocinha e duas à Mangueira, para conseguir um bom material. Na primeira vez que estive nos dois lugares, reclamaram que as imagens não estavam boas e exigiram que eu voltasse até o material estar com boa qualidade. O grande problema começou um mês depois da exibição da série. Comecei a ser duramente ameaçada por traficantes, sem nenhum respaldo da emissora, e decidi ingressar com uma ação judicial pedindo segurança.

Quando começaram as ameaças de traficantes?

Por volta de um mês depois da exibição das matérias, começaram a me telefonar de um orelhão que fica dentro da Favela da Rocinha me chamando de ‘Dona Ferrada’ e dizendo que me pegariam. Diziam também que eu não escaparia, era questão de tempo. Diante das constantes ligações, conversei com a chefia do JN e pedi proteção. Fui ignorada. Dias depois, sequestraram um produtor do Esporte Espetacular, o levaram para um barraco na Rocinha. Bateram muito no coitado. Os traficantes queriam saber se ele sabia quem tinha ido à favela fazer as imagens, mas o produtor não sabia. Era de uma editoria diferente da minha e realmente não sabia. O que me assustou foi que a TV Globo não me falou nada. Eu estava voltando de um mês de férias e soube do episódio pela Folha de S. Paulo. Quiseram abafar as ameaças e a ligação entre os dois casos: as ameaças feitas contra mim e o sequestro do Carlos Alberto de Carvalho. O episódio me deixou ainda mais assustada, porque aí eu tive a certeza de que não podia contar com a emissora para nada. Procurei a polícia, registrei o caso na 10ª DP (Gávea), mas acho que sentaram em cima do processo. Na verdade, devem estar esperando para ouvir a outra parte – os traficantes. (risos).

Então, com a denúncia à polícia as ameaças não pararam?

Muito pelo contrário. A coisa corria solta e ninguém fazia absolutamente nada. Mas o que tirou meu sono foi quando prenderam um garoto da Rocinha que pagava propina a um coronel. Fui cobrir o caso e me desesperei. Ao encontrar o moleque detido, ele olhou bem para mim e disse ‘É, tia! Eu tô ferrado, mas tu também tá. Tá todo mundo atrás de você lá na Rocinha. Tua cabeça tá valendo R$ 20 mil’. Naquele momento, tomei a dimensão da situação em que eu me encontrava. Ele descreveu a roupa que eu usava quando ia à favela fazer as imagens. Todo o meu disfarce: meu boné surrado, a bermuda, a cor da camiseta.

Com o processo você conseguiu desligamento da TV Globo?

Sim. Por meio da ação judicial que emplaquei no Ministério do Trabalho, meu vínculo com a TV Globo acabou. Sinceramente, hoje eu tenho mais medo da TV Globo do que dos traficantes. O traficante pode te ameaçar e ser violento. No entanto, ele avisa e depois cumpre. A TV Globo é traiçoeira. Enquanto você é subordinado e faz o que te pedem, você é bonzinho. Já quando você questiona os riscos que ela te impõe e se nega a fazer alguma coisa por temer pela sua própria vida, você é tachado de louco. Traficantes me parecem mais confiáveis.

Você acha que estaria morta se não tivesse travado uma briga judicial com a TV Globo para não ser mais obrigada a produzir matérias que colocassem sua vida em jogo?

Já estaria morta há muito tempo. A Globo não quis saber se eu corria risco de vida. Os meus chefes diziam que as ameaças que eu recebia por telefone eram coisas da minha cabeça. Não me arrependo de ter largado a Globo para trás. A minha vida vale muito mais do que R$ 3.100, que era o meu salário em 2001.

A morte do Tim poderia ter sido evitada pela emissora?

Sem dúvida nenhuma. Eu falei sobre os riscos que estávamos correndo sete meses antes de os traficantes do Alemão matarem o Tim Lopes. Eu implorei por atenção a estas ameaças e o que fez a TV Globo? Ignorou tudo. Sete meses depois, eles pegaram o Tim. Na ocasião do Prêmio Esso, antes de o Tim ser morto, eu liguei para ele e o alertei sobre os riscos de ter exposto seu rosto nos jornais. Na nossa profissão, é preciso ter muito cuidado para mostrar a cara. É muita ingenuidade achar que traficante não assiste TV e não lê jornal.

Procurada pela reportagem do Jornal do Brasil, a assessoria da Rede Globo não retornou às solicitações para esclarecimento das acusações desta matéria.

por Maria Luisa de Melo, no Jornal do Brasil

sugestão de Urariano Motta ao Viomundo | 12 Jul. 2011 às 16:03

http://www.viomundo.com.br/denuncias/jornalista-cristina-guimaraes-se-dependesse-da-globo-eu-estaria-morta.html

Livro resgata história da guerrilha de Porecatu

Símbolo da luta camponesa pela distribuição de terra no Brasil, a história da guerrilha de Porecatu, no Paraná, é resgatada no livro "Porecatu: a guerrilha que os comunistas esqueceram", do jornalista Marcelo Oikawa.

Além de influenciar a criação dos primeiros sindicatos de trabalhadores rurais, a guerrilha “motivou a assinatura do primeiro decreto de desapropriação de terras para fins sociais”.

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Após 20 anos de pesquisa, o jornalista explica como ocorreu a guerrilha de Porecatu e como se deu a relação entre posseiros de Porecatu e o Partido Comunista Brasileiro – PCB. Segundo ele, como estava na ilegalidade, o PCB tentou alcançar o poder “partindo do campo para as cidades”.

Esta decisão, menciona, veio a “calhar com as necessidades dos posseiros de Porecatu que vinham resistindo como podiam contra os grileiros, jagunços e a polícia, desde 1944. Em 1948, a convite dos próprios posseiros, o PCB entra na luta para liderá-la, imaginando que ela seria ‘a fagulha que iria incendiar o campo’, como diziam os dirigentes comunistas da época”.

Das 3 mil famílias que lutaram pela distribuição da terra, apenas 380 foram assentadas. Dos participantes da “chamada aliança operário-camponesa em Porecatu, apenas Manoel Jacinto era operário. Os demais comunistas, além dos trabalhadores rurais, eram ex-militares, médicos, advogados, engenheiros, professores, comerciantes etc.” conta ele, em entrevista à IHU On-Line por e-mail.

Apesar de ter lutado ao lado dos camponeses na década de 1950, integrantes do PCB e das dissidências PCdoB e PCBR evitam comentar o tema. Para o jornalista, o silêncio justifica-se porque “boa parte do PCB considerou Porecatu um dos maiores erros de sua história. Uma outra parte simplesmente silenciou (...). Terminado o conflito, as autoridades disseminaram pela imprensa que Porecatu não tinha tido importância, que havia sido algo espontâneo, errático, pequeno. Também muito curiosamente, setores da esquerda assumiram essa postura”.

Marcelo Oikawa é jornalista, paulista, foi repórter dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, atuou na região norte do Paraná e foi correspondente de diversos outros veículos de comunicação.

Confira a entrevista.

De onde vem seu interesse em pesquisar a guerrilha de Porecatu?

Sempre ouvia falar da guerrilha de Porecatu, mas ninguém sabia dizer muita coisa, senão que havia sido sangrenta. Como jornalista na região, sempre que visitava Porecatu e tocava no assunto, sentia que as pessoas evitavam o assunto com muito medo. Também há o fato de que minha família era próxima da família de Manoel Jacinto Correia, um comunista que foi um dos líderes daquela resistência. Ele passou a vida criticando e lamentando que a direção do Partido Comunista tivesse impedido a negociação oferecida pelo governo do Paraná, após anos de lutas, apesar da vontade dos posseiros. Manoel considerou um grave erro a recusa em negociar.

Por que Porecatu é um exemplo típico de como se formou a propriedade da terra no Brasil?

O Brasil colônia foi ocupado por capitanias hereditárias e sesmarias sempre tratadas com muito desinteresse por seus donatários. Com a Proclamação da República, requerimentos de posse deram entrada em cartórios por todo o território nacional sem nenhuma comprovação. Em muitos casos esses requerimentos se sobrepuseram a outros dando origem a disputas. É o caso de Porecatu, com a agravante de que o próprio governo estadual chamou os posseiros para ocuparem a região e depois os considerou intrusos.

O senhor afirma que Porecatu foi a primeira Liga Camponesa do Brasil. É isso mesmo? Não foi no Nordeste que elas se originaram? Qual a origem desse nome?

Sempre se achou que a primeira Liga Camponesa do Brasil foi a Dumont, de Ribeirão Preto, criada em 1945. Mas Porecatu a precedeu, fundando as duas primeiras associações de lavradores do país. O conflito em Porecatu registrou a criação de mais de uma dezena dessas associações, já com o nome Liga Camponesa. Foram precursoras das famosas Ligas de Francisco Julião, no Nordeste.

Qual a importância de Porecatu na luta camponesa brasileira?

É a primeira luta camponesa brasileira sem o componente religioso ou messiânico como Canudos e Contestado. É o evento inaugural que vai influenciar dezenas de lutas que ocorreram no Brasil a partir de Porecatu, inclusive com a criação dos primeiros sindicatos de trabalhadores rurais. Porecatu motivou a assinatura do primeiro decreto de desapropriação de terras para fins sociais. Também foi lá que se usou pela primeira vez a palavra camponês para designar o trabalhador rural sem terra, colono, arrendatário ou pequeno proprietário.

Por que o PCB decidiu se envolver nos conflitos camponeses e deslocar quadros para apoiar a luta dos posseiros?

Com o início da Guerra Fria, os partidos considerados comunistas foram colocados na ilegalidade. Com isto, no Brasil, os comunistas mudaram sua estratégia e tática, passando a considerar a via revolucionária para o poder, partindo do campo para as cidades. Esta decisão vem a calhar com as necessidades dos posseiros de Porecatu que vinham resistindo como podiam contra os grileiros, os jagunços e a polícia, desde 1944. Em 1948, a convite dos próprios posseiros o PCB entra na luta para liderá-la, imaginando que ela seria “a fagulha que iria incendiar o campo”, como diziam os dirigentes comunistas da época.

Os trabalhadores receberam bem e aceitaram a liderança do PCB? Como se deu a luta? Houve enfrentamentos, muitos morreram?

O PCB foi para os trabalhadores uma esperança de conquistarem finalmente os títulos de propriedade. Os conflitos, com táticas de guerrilha, se estenderam até junho de 1951, período em que os combatentes chegaram a controlar uma área de 40 quilômetros quadrados. Para se ter uma ideia da violência que imperava na região, em 1953 dois jornalistas da revista O Cruzeiro realizaram um levantamento nos cemitérios da região e descobriram que metade das covas eram ocupada por corpos de pessoas assassinadas.

A aliança operário-camponesa sugerida pelo PCB deu certo na luta em Porecatu?

Por responsabilidade do próprio PCB, a luta de Porecatu acabou fracassando. De mais de 3 mil famílias lutando pelos títulos, apenas 380 foram assentadas. E nessa chamada aliança operário-camponesa em Porecatu, apenas Manoel Jacinto era operário. Os demais comunistas, além dos trabalhadores rurais, eram ex-militares, médicos, advogados, engenheiros, professores, comerciantes etc.

O que mais lhe impressionou na pesquisa dos arquivos do DOPS e na leitura do diário de Hilário Gonçalves Pinha, um dos comandantes militares da luta armada?

Na pesquisa do DOPS, constatei que, nos 70 anos de funcionamento desse organismo policial no Paraná, Porecatu deu origem à maior quantidade de documentos policiais, mais do que o movimento dos estivadores no Porto de Paranaguá e o movimento dos ferroviários do estado. E no diário de Hilário, o que impressiona é sentir o calor dos acontecimentos e a sua descrição do confronto que causou o maior número de baixas entre posseiros, jagunços e polícia.

Quais foram as conquistas e as derrotas em Porecatu?

Marcelo Oikawa – Em minha opinião, as grandes lições de Porecatu são a descoberta pelos camponeses do valor da união, do trabalho em mutirão, da importância da organização. A experiência de Porecatu vai influenciar as lutas camponesas que ocorreram em vários pontos do país e do Paraná a partir da década de 1950. E a derrota ensinou, tarde demais, que é preciso ter amplitude na tática de luta, saber avançar e saber recuar, saber exigir e saber negociar.

Como os jornais da época abordavam os conflitos em Porecatu?

Marcelo Oikawa – Os jornais comunistas – haviam vários, praticamente um em cada um dos estados mais importantes – apoiavam, faziam campanhas de arrecadação de fundos e donativos. A grande imprensa da época cobria o conflito com grande alarde, mas é possível notar que agiam de acordo com seus próprios posicionamentos partidários. Na imprensa do Paraná, esse viés era escancarado. O interessante é que na maior parte do tempo esses jornais culpam seus adversários políticos pela situação em Porecatu. Somente anos mais tarde começam a chamar a atenção para a ação comunista.

Por que, em sua avaliação, dirigentes do PCB da época pouco tocavam no assunto da guerrilha de Porecatu e por quais razões, mais tarde, homens que se dividiram entre PCB, PCdoB e PCBR não falaram sobre o tema?

Essa é uma pergunta que está até hoje sem resposta. Por que se calaram? Uma boa parte do PCB considerou Porecatu um dos maiores erros de sua história. Uma outra parte simplesmente silenciou. É curioso notar que em 1954, em Trombos e Formoso, Goiás, o próprio PCB vai propor um acordo ao governo do Estado para solucionar os conflitos pela terra. Os dirigentes do PCB eram os mesmos. Talvez falar de Porecatu implicasse em admitir um erro importante.

Por que o senhor afirma que o PCB deliberadamente “esqueceu” de Porecatu? E, no mesmo sentido, por que a história de resistência dos posseiros em Porecatu é desconhecida para a maioria das pessoas?

Terminado o conflito, as autoridades disseminaram pela imprensa que Porecatu não tinha tido importância, que havia sido algo espontâneo, errático, pequeno. Também muito curiosamente, setores da esquerda assumiram essa postura. Por medo, a região sepultou a história em sua memória. Os únicos registros que restaram são as ações judiciais que estão depositadas sem grandes cuidados no Fórum de Porecatu e nos arquivos do DOPS, bem como com alguns familiares de comunistas que viveram a época.

Na avaliação do senhor, o que o MST herdou das ligas camponesas?

Não tenho conhecimentos suficientes para fazer uma comparação entre o MST e a luta camponesa da época. O que eu posso fazer é relatar uma experiência que vivi recentemente: ao finalizar o livro, decidi viajar à região para procurar os cenários da guerrilha.

Tive como guia dois líderes do MST na região. Além de encontrar o que procurava, encontrei também o que não procurava: várias fazendas que, na época, tiveram greves de trabalhadores e que ainda continuam lá, com o mesmo nome. Reinvidicavam, por meio de greves, melhores condições de trabalho e um maior apoio aos posseiros. Essas fazendas hoje são assentamentos ou acampamentos do MST.

Naquela época, os trabalhadores dessas fazendas foram os primeiros prisioneiros feitos pela polícia quando ela penetrou no perímetro do território controlado pela guerrilha. Os trabalhadores de hoje que lá estão continuam fazendo história, lutando pelos mesmos sonhos de 60 anos atrás.

Do IHU On-Line, via MST | 12 de julho de 2011

http://www.mst.org.br/node/12136

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Cuba-Brasil, 25 anos do reatamento

Com financiamento do BNDES, constrói-se o Porto de Mariel, decisivo no fortalecimento econômico de Cuba. Será o maior porto do Caribe. Na prática, empresas brasileiras furam o bloqueio à Ilha. Em outro projeto, Brasil e Cuba estão cooperando na produção de vacinas para a África.

Neste mês de junho, completam-se 25 anos do reatamento das relações entre Brasil e Cuba. Era Sarney o presidente. A ruptura veio no golpe de 64. Sob a ditadura muitos trabalharam para pavimentar o caminho da retomada. Chico Buarque, o jornalista Fernando Moraes com o seu livro “A ilha”, a imprensa alternativa e de esquerda, Frei Betto e Frei Boff e tantos que fizeram um trabalho anônimo para que hoje Brasil e Cuba tenham as excelentes relações que possuem, Mas, podem expandir-se

Há uma nova situação política na região, que pode ser melhor aproveitada pela Solidariedade a Cuba, que também neste mês de junho, realiza sua Convenção Nacional. Para além de todas as bandeiras históricas já defendidas, há imensas possibilidades de ampliar e qualificar as relações bilaterais Brasil e Cuba, que neste momento já cooperam em programas importantíssimos.

Com financiamento do BNDES, constrói-se o Porto de Mariel, decisivo no fortalecimento econômico de Cuba. Será o maior porto do Caribe. Na prática, empresas brasileiras furam o bloqueio à Ilha. Em outro projeto, Brasil e Cuba estão cooperando na produção de vacinas para a África, inclusive na especialização de médicos timorenses formados em Cuba que passam pela Fiocruz antes da volta ao Timor.

Para citar mais um, Cuba e Brasil estão cooperando também no sistema de saúde do Haiti, com financiamento brasileiro de 80 milhões de dólares, mais pessoal e tecnologia. Eis porque Fidel, visionário, declarou em encontro internacional, em 2005, preferir soldados brasileiros a marines dos EUA no Haiti. Como indica o raciocínio de Castro, a cooperação Brasil-Cuba é estratégica para muitos povos. E pode ser qualificada com mecanismos de cooperação melhor trabalhados. Exemplo: na área da informação, colocando-se em prática o convênio da EBC com a Prensa Latina e a Telesur, para que o povo brasileiro escape do bloqueio informativo de que padece sobre as conquistas sociais da Ilha.

Beto Almeida* | Carta Maior | 27 Jun. 2011

* Jornalista, Membro da Junta Diretiva da Telesur.

http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=5102

De respeito mesmo, parece que no PR só tem o Tiririca

Mesmo assim, o partido endurece o jogo contra Dilma

Inacreditável, mas rigorosamente verdadeiro: embora esteja mais para quadrilha organizada e confraria de picaretas do que para partido político, o Partido da República  (PR) resolveu peitar o Governoe redobra exigências e exige satisfações.  Este é o grau de avacalhação (a palavra é dura, mas é adequada) a que chegaram as relações do Planalto com sua base aliada. Tudo em nome da governabilidade.

Convidado pela presidente Dilma para ocupar o lugar do demitido Alfredo Nascimento no Ministério dos Transportes, Blairo Maggi, ex-governador de Mato Grosso e atual senador, faz doce, pede  tempo para pensar, diz que está mais preocupado com seus negócios e, finalmente, manda o recado: exige uma satisfação em relação ao “mal tratamento” sofrido por seu protegido Luiz Antonio Pagot, diretor do Dnit, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.

Este, por sua vez, está na cota de demitidos da cúpula do Ministério.  A demissão só não teria sido formalizada porque, oportunamente entrou de férias, segundo ele, por recomendação da chefe da Casa Civil da Presidência, Gleisi Hoffmann. Esta, porém, nega ter feito tal sugestão.

Pagot  segue , assim, como moeda de troca. E prossegue a novela cada vez mais enrolada, exatamente como quer e recomenda Valdemar Costa Neto, o verdadeiro dono PR e presumível agenciador de todas (quase todas) as negociatas operadas no Ministério. Sua estratégia resume-se nesta máxima: “O negócio é deixar a onda passar”.

Enquanto isso, prestigiado pelo chefe Maggi,  Pagot enche o peito e fornece uma pequena mostra do que pretende dizer caso  seja chamado a depor na Comissão de  Ética do Senado  que deverá investigar Nascimento: “O diretor de Infraestrutura do Dnit, Hildebrando Caron (filiado ao PT), é responsável por 90% das obras”.

Há quem diga que Dilma  não recuará de sua decisão de demitir Pago.  E  há quem acredite que, assim com Lula fez tantas vezes, ela engolirá  mais este sapo.

Tudo isto está mais para crônica policial que política. Por isso mesmo, cabe a pergunta:  Vale a pena para o Governo e para o PT  chafurdar nesse lodo de corrupção e chantagens? Tudo é feito em nome da governabilidade. Mas que governabilidade é está?

Ainda há uma meta ou algum vago projeto socialista que  justifique  tantos meios escusos e tanta concessão fisiológica a partidos como o PMDB e o PR que são escancaradamente instrumentos de uma pacto conservador, tanto do Grande Capital (principalmente o Financeiro e o Agrário) como de certas seitas fundamentalistas e  espantosamente retrogradas?

Do jeito como as coisas ficaram arrumadas, não é o PT e o Governo que usam a aliança no  seu interesse. Eles são usados. Tanto que a mídia, serva obediente do Capital Financeiro, está cada vez mais dilmista.

A grande distorção da política brasileira e que deveria estar sendo denunciada pelo PT e  servindo de argumento para a convocação de uma  Constituinte é  a de que o Grande Capital, através dos partidos fisiológicos e dos ideologicamente de direita, ocupa mais de 70 % das cadeiras  do Congresso. De que valeram, afinal, os 50 milhões de votos obtidos pro Dilma?

Francisco Barreira | 08-07-11

O “Jeito Dilma” de fritar “companheiros”

Na quarta-feira à noite,  a presidenta Dilma Rousseff convidou o senador do PR e ex-governador de Mato Grosso,  Blairo Maggi para assumir o Ministério dos Transportes no lugar de Alfredo Nascimento que ainda nem tinha sido demitido oficialmente. Blairo pediu 48 horas para pensar  e para consultar as lideranças do partido.

O ex-governador matogrossense  é  um dos dez maiores latifundiários do Brasil, o maior produtor individual de soja do Mundo e um aos  maiores desmatadores do de todos os tempos. Pelo menos em Mato Grosso, ninguém pode dizer que abateu tantas árvores quanto ele.

Ao convidá-lo para substituir Nascimento, a presidenta  mirava três objetivos:

1- Não travar as negociações, com o PR, considerado um aliado importante com seus 42 deputados e seis senadores.

2- Precaver-se  contra as ameaças de Luiz Antônio Pagot, amigo íntimo e homem de  confiança de Maggi. Ao saber que seria demitido do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), um dos maiores focos de corrupção do  MT, ele circulou pelo Senado,  terça-feira, dizendo-se magoado com o Governo e  insinuando que  não deixaria  barato o desaforo.

3- Eliminar, através  de um fato consumado e da nomeação de um senador, qualquer possibilidade de articulação por parte do inescrupuloso deputado Valdemar Costa Neto, secretário-geral do PR e que age como dono do pedaço, sendo considerado  a principal  peça de  todas as negociatas, num ministério recordista nesta modalidade.

Valdemar, aliás, é do tipo que não esquenta,  calejado que está com todos os tipos de escândalo. Na quarta-feira ele dizia, fazendo graça para os amigos, que ainda não sabe, mas vai descobrir, se as informações sobre as falcatruas estão sendo passadas para imprensa pelo Palácio do Planalto ou por elementos do próprio PR.

O agonizante ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, pediu demissão quarta-feira à  tarde. Mesmo assim, agora que volta a ser senador, dispôs-se comparecer às várias Comissões do Senado, inclusive a de

Ética, para tentar explicar a inexplicável e escancarada roubalheira que  há sete anos ocorre debaixo de seu queixo, no Ministério.

A presidenta Dilma  cumprirá a promessa de nomear um substituto filiado e indicado pelo PR, partido do Nascimento e do Garotinho que há pouco mais de um mês, como autêntico chantagista, referiu-se a Palocci como “uma  jóia de 20 milhões de reais.

Mas ela não esconde sua preferência por Paulo Sérgio Passos, um técnico que como secretário-geral,  está ocupando interinamente o cargo de ministro.

Como este blog revelou, há três dias, as informações sobre irregularidades no MT vazaram para  a imprensa diretamente  do  Palácio do Planalto.  Na verdade, a presidenta Dilma tem “a maior bronca” contra Nascimento desde os tempos em que era chefe da Casa Civil, via tudo, mas,  em nome da “governabilidade”, não podia fazer nada.

A agonia de Nascimento foi semelhante à sofrida por Palocci, há dois meses.  Diariamente aparerciam novas acusações e escândalos. Quarta-feira foi a vez do filho de Nascimento, Gustavo, um jovem que aos 27 anos  já acumulou uma fortuna de 50 milhões de reais, a partir de uma pequena empresa criada  há dois anos.

O maior problema  do ministro defenestrado  foi o de ser  torpedeado  não apenas pelo  Planalto e pelos demais partidos da base governista que estavam de olho no seu cargo, como também por seus  próprios colegas do PR que queriam livrar-se dele para ver se salvavam o Ministério.

Para se ter idéia da determinação da presidenta em fritar o ministro e seus auxiliares , basta ler estas  poucas linhas veiculadas pela Folha de S. Paulo também na quarta-feira:

“O governo informou na terça-feira que o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit), Luiz Pagot, será exonerado do cargo ao voltar de férias. Ele e outros integrantes do governo ligados ao PR são suspeitos de irregularidades em obras do setor, segundo reportagem da revista Veja. Um dos nomes que a presidente Dilma Rousseff já chegou a cogitar para substitui-lo é o de Hilderaldo Caron, ligado ao PT e um dos diretores do Dnit.

A decisão de exonerar Pagot foi tomada ainda na quarta-feira em reunião de Dilma com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Pagot foi ao Senado na terça-feira para se reunir com senadores do PR. Ele disse estar “magoado” com o Governo”.

Francisco Barreira | o5-07-11 atualizado em 08-07-11

Analistas e pesquisadores  (historiadores em perspectiva) já detectaram a diferença essencial entre Dilma Rousseff e Lula: ela  pretende ser bem menos complacente com os desvios de conduta ou corrupção escancarada dos “companheiros” que compõem a base aliada do Governo.

Lula governou sob a síndrome da necessidade de governabilidade a qualquer  preço. “Se o que temos para governar é esse lixo, governaremos com esse lixo”. Ou seja, fazia-se vista grossa ou mesmo tentava-se abafar os escândalos dos indispensáveis aliados no Congresso. Na prática, criava-se uma lealdade mafiosa, ainda que  o chefe não sujasse as mãos.

Seja como for, Lula jamais se conformou com o fato de  ter sido derrotado, por um único e mísero voto  na  questão do Imposto do Cheque. Uma questão que beneficiou aos banqueiros, mas que a mídia marota conseguiu vender como uma vitória dos contribuintes.

Entretanto a questão  é mais sutil e grave. Nas conversas íntimas da qual só participam os colaboradores mais  próximos, o próprio Lula e algum  marqueteiro ocasionalmente convocado  para consultas, chegou-se ao consenso  de que já está colando no PT a imagem de um partido que, mesmo que  não meta as mãos na massa, faz qualquer negócio para governar.

E não é uma imagem pintada apenas pela sempre belicosa mídia  ou pelos oposicionistas de profissão. É algo que como  uma verruma está penetrando nas mentes da opinião pública ampla, aquela que inclui o que não são leitores habituais dos grandes jornais. E é aí que as imagens transformam-se em manchas que jamais serão extintas. Ficam perenes no eleitorado e na História.

Adhemar de Barros e Paulo Maluf, mesmo na hipótese de que jamais tivessem metido a mão em um único tostão, imortalizaram-se como ladrões e não há nada  que possa ser feito contra isso.

Se subirmos o tom para alcançarmos o sociologuês, diremos  que a presidente Dilma, Lula e seus colaboradores mais íntimos sabem que será um desastre se a referida imagem  negativa do PT prosperar, sobretudo em meio a um eleitorado onde predomina cada vez mais a classe média recheada  anualmente por  novas levas de emergentes.

E este seguimento social, que já é majoritário, tradicionalmente distancia-se da luta clássica de classes (capital x trabalho) e supervaloriza no seu conceito  e no seu voto, ainda que com boa dose de ingenuidade ou  hipocrisia, os valores morais e éticos.

Vai daí que Dilma Rousseff  pretende acrescentar ao seu  modelito bem sucedido de gerente competente e exigente, um outro: o de fiadora da moralidade pública, pelo menos no âmbito do Governo. O ministro  José Eduardo Cardozo, da Justiça, é  um os principais defensores desta postura.

A fritura em si

E  é nesse contesto que se dá a atual fritura do ministro Alfredo Nascimento, dos Transportes, representante do PR no bolo governamental. Todos sabem que ele não é flor  que se cheire, nem muito menos  o verdadeiro dono do partido, o deputado  Waldemar Costa  Neto, um escroque sob qualquer ângulo que se olhe: ele só não está preso porque é deputado e só não foi cassado na legislatura passada porque renunciou ao mandato.

 Neste fim de semana, Dilma Rousseff analisou, com auxiliares, possibilidade  de afastar Alfredo Nascimento do cargo de ministro. Alguns nomes para substituí-lo chegaram a ser selecionados. E lembremos que foi ela  quem  levantou a suspeita de superfaturamento no Ministério e exigiu de Nascimento o afastamento (na verdade demissão)  de seus principais auxiliares.

Entretanto, nas últimas 24 horas a presidenta recuou e confirmou sua confiança em Nascimento através de nota oficial. A desculpa oferecida em off aos jornalistas foi a de que ela ainda está estudando uma forma de contornar uma possível crise com o PR que, afinal, possui seis senadores e  mais de 40 deputados. É, sem dúvida, uma peça importante na base governista porque, além disso, lidera um bloco de mais sete partidos menores, somando um total de 64 parlamentares.

Há também a versão de que Waldemar Costa Neto teria ameaçado botar a boca no trombone, assim como Roberto Jefferson fizera no episódio do “Mensalão”. O estrago seria grande.

Mas a análise mais justa é que indica o seguinte: este é o jeito tortuoso que a presidenta adotou para livrar-se de Nascimento. E notem que há certa semelhança com o desfecho sofrido por Antônio Palocci que foi “prestigiado” até  o momento mesmo em que subia ao patíbulo.

E tudo isto começa a fazer mais o sentido quando crescem as suspeitas (mais evidências que suspeitas) de que os detalhes sobre as picaretagens da cúpula do Ministério dos Transportes (o quarteto demitido) foram fornecidos à Veja pelo Planalto.

À la Thatcher

É famosa a entrevista da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher que, anos depois de deixar o governo, confessou que sempre que queira “fritar” um ministro mandava um assessor de confiança  vazar os malfeitos do  infeliz para um órgão de imprensa importante.

E ela tinha o cuidado de fazer uma espécie de rodízio. Ou seja: nunca vazar duas vezes para o mesmo veículo, para não criar privilégios ou desconfianças.

Qualquer semelhança com a “fritura” do ministro Nascimento não é mera coincidência.

Francisco Barreira | Texto de o5-07-11

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