A prefeitura de Curitiba (PR) apresentou orgulhosamente um novo ônibus, que vai começar a circular ainda este mês pelas ruas da cidade, com a responsabilidade de ser o “mais longo do mundo”. É um articulado, com três segmentos, cada qual com a extensão de um ônibus urbano convencional e capacidade total para 250 passageiros.
O veículo é cheio de modernidades. Tantas que seria correto dizer que o danado “só falta falar”, não fosse o fato de que ele fala mesmo. O tempo todo, uma voz no painel orienta o motorista sobre que porta abrir, que deve parar ou partir e assim por diante.
A novidade nos reporta a outro aspecto da questão. Logo, alguém se aperceberá que seria mais barato se o ligeirão, como está sendo chamado o novo ônibus, fosse movido a energia elétrica. Poderia, também, andar sobre trilhos e usar pneu de ferro, que não desgasta, nem fura. E pronto, estará inventado o bonde.
Nas rodovias, sucede a mesma coisa há muitos anos. São os caminhões articulados, com duas carretas, que tomam as estradas. São chamados de bitrens. Mas já se vê alguns com três carretas, puxadas por um único cavalo mecânico, para cargas mais volumosas, mas leves.
Também neste caso, logo alguém se aperceberá que seria mais barato se o tritrem, como está sendo chamado, fosse movido a energia elétrica. Poderia, também, andar sobre trilhos e usar pneu de ferro, que não desgasta, nem fura. E pronto, estará inventado o trem.
Parece brincadeira com assunto sério, mas os casos demonstram o quão insensata foi a opção brasileira pelo abandono do transporte ferroviário. Nas ruas das cidades e nas rodovias, os ônibus e caminhões disputam espaço com uma quantidade cada vez maior de carros de passeio.
O custo dessa opção quase absoluta pela rodovia, vem pesando no caixa dos governantes há bons anos. Não há dinheiro que chegue para a construção e manutenção da malha rodoviária nacional. E nas cidades, mesmo nas menores, outrora pacatas, o trânsito urbano virou um inferno.
Há cidades do interior que chegam ao absurdo de proibirem o uso de animais de montaria ou de tração nas áreas urbanas. A cidade goiana de Cristalina, por exemplo, pune com pesadas multas quem transgredir a proibição.
A única exceção é aberta em dias de festas, como a do Divino Espírito Santo. Mas os cavalos, éguas e mulas, que são parte dos festejos, só podem ficar na área urbana até às 16h daquele domingo. Depois, é multa neles.
Essa cidade está a pouco mais de 100 quilômetros de Brasília, onde um grande número de charretes faz a coleta de materiais recicláveis na própria Praça dos Três Poderes. Também na capital federal, parte do policiamento é feito pelo batalhão montado da Polícia Militar.
Mas, voltando ao trem, sem muito alarde, o complexo ferroviário brasileiro está tomando jeito. E, de fato, tudo indica que em menos de uma década voltaremos a ter uma malha respeitável, transportando cargas e pessoas, com trens modernos, sobre bitolas largas, que permitem maior velocidade e mais segurança.
As obras das ferrovias Transnordestina e Norte-sul estão de vento em popa. A Norte-sul, hoje sob a responsabilidade da empresa Vale, corta a parte norte do País, em linha paralela à da rodovia Belém-Brasília e já está conectada á ferrovia de Carajás, que corta o Pará e o Maranhão.
Essas duas ficarão interligadas à Transnordestina, cujas obras estão a todo vapor, cortando o Nordeste no sentido Oeste-Leste, indo bater em dois anos no porto de Suape, no Pernambuco. Essas obras estão chamando levas de nordestinos, que fazem o caminho de volta, com emprego nas obras e um futuro menos incerto.
Serra Talhada, no oeste pernambucano, a terra onde nasceu Virgulino Ferreira, o Lampião, é exemplo de um caso animador. Ali, as obras dessa ferrovia se encontram com as de transposição do rio São Francisco, promovendo um surto de desenvolvimento nunca visto por ali.
São, enfim, notícias alvissareiras para um país que foi pioneiro no mundo das ferrovias. O apoio de D. Pedro II, o empreendedorismo de gente como o Barão de Mauá e as máquinas e trilhos ingleses deram conta de grandes feitos, já no século 19.
E o erro cometido nas últimas décadas do século passado, em que as ferrovias brasileiras foram jogadas na sucata, tirando o Brasil dos trilhos, está sendo reparado.
E assim, reinventamos o bonde e o trem.
Jaime Sautchuk * | 13 de Abril de 2011 - 0h01
* Trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.
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